sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Associação de claritromicina a bloqueador de canal de cálcio pode ser fatal

Um grupo de canadenses publicou no JAMA uma coorte retrospectiva de base populacional (restrita a idosos) analisando a importância da interação medicamentosa entre a claritromicina e os bloqueadores de canal de cálcio.

Os bloqueadores de canal de cálcio são metabolizados por uma fração do citocromo p450 que é inibida pela claritromicina, mas não é inibida pela azitromicina, que é outro macrolídio.

Em comparação aos idosos que receberam prescrição de azitromicina enquanto usavam bloqueador de canal de cálcio, os idosos que receberam prescrição de claritromicina enquanto usavam bloqueador de canal de cálcio tiveram maior risco de serem internados por lesão renal aguda, de serem internados por hipotensão arterial, e de morrem.

O efeito foi maior para os bloqueadores de canal de cálcio di-hidropiridínicos, como o nifedipino e o anlodipino. Este último, aliás, foi o bloqueador de canal de cálcio mais utilizado pelas pessoas incluídas no estudo.

Os autores calcularam não apenas a razão de risco ("risco relativo"), mas também o aumento absoluto de risco, do qual se pode derivar o NNH. Pelo que o estudo indica, prescrever claritromicina para idosos que usam bloqueadores de canal de cálcio parece causar a morte de uma pessoa a cada 230 prescrições, levando em consideração que existem alternativas de antibiótico.

Gandhi S, Fleet JL, Bailey DG, et al. Calcium-channel blocker–clarithromycin drug interactions and acute kidney injury. JAMA. 2013;310(23):2544–53. DOI: 10.1001/jama.2013.282426


Publicado originalmente por Leonardo Ferreira Fontenelle em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

domingo, 22 de dezembro de 2013

Residência em MFC com Medicina Rural realmente fixa Médicos no Interior

One program, multiple training sites: does site of family medicine training influence professional practice location?

Jamieson JL, Kernahan J, Calam B, Sivertz KS. One program, multiple training sites: does site of family medicine training influence professional practice location? Rural and Remote Health 13: 2496. (Online) 2013. 

Artigo da Rural and Remote Health de 2013 aponta que a Residência em Medicina de Família e Comunidade, quando realizada em locais rurais ou de maneira "distribuída" (ou seja, com parte do período em localidades rurais ou centros regionais menores) aumenta em 15 vezes a probabilidade de retenção de médicos em regiões rurais. 

Em um tempo de programas de provimento de profissionais para locais de difícil fixação, como o "Provab" e o "Mais Médicos", os sanitaristas que hoje participam da gestão deveriam incentivar a Residência Médica - em especial em áreas básicas como a Medicina de Família e Comunidade - com ao menos uma parte de sua formação em localidades rurais para incentivar não o provimento temporário, mas a fixação de tais profissionais. 

Há algum tempo a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade vem batendo na tecla do incentivo às residências em MFC (note-se: seguindo os preceitos da Organização Mundial de Médicos de Família e da CNRM e não um pseudo-projeto de um ano de residência geral/ familiar/ comunitária que simula um serviço civil obrigatório, inventado no Congresso Nacional por ex-sanitarista), porém há pelo menos 3 anos o incentivo a ampliação de vagas foi deixado em segundo plano. 



Leia o Resumo traduzido:

Introdução: Várias estratégias têm sido sugeridas para aumentar o recrutamento de médicos de família para as comunidades rurais e centros regionais menores. Uma abordagem tem sido a implementação de programas de educação de pós-graduação "distribuídos" onde os formandos passam um tempo substancial em tais comunidades. O objetivo do presente estudo foi comparar a localização prática eventual de médicos de família que se comprometeram em sua formação de pós-graduação através de uma única universidade, mas que foram baseados em comunidades ou metropolitanas ou "distribuídas" não- metropolitanas. 

Métodos: A partir de 1998, o Departamento de Medicina de Família na Universidade de British Columbia, no Canadá realizou uma pesquisa anual de seus Residentes com 2 , 5 e 10 anos após a conclusão do programa. Os autores receberam aprovação do Conselho de Ética para usar esses dados anônimos para identificar os fatores pessoais e educacionais que predizem localização prática futura. 

Resultados: A taxa de resposta global foi de 45% . Aos 2 anos (N = 222) , os Residentes treinados em locais "distribuídos" tiveram 15 vezes mais chances de atuar nas comunidades rurais, em pequenas cidades e centros regionais do que aqueles que treinaram em centros de ensino metropolitanos. Este foi ainda mais preditivo para a retenção em regiões de prática não-urbana. Entre o subgrupo dos médicos que permaneceram em um único local de prática por mais de um ano, antes da pesquisa, aqueles que foram treinados em regiões menores eram 36 vezes mais propensos a escolher uma configuração de prática rural ou regional. Embora a grande maioria dos treinados em regiões metropolitanas tenham escolhido um local prática urbana, um subgrupo de pessoas com alguma educação rural foram mais propensos a praticar em áreas rurais ou regionais. Estagiários de locais "distribuídos" consideravam-se mais preparados para a prática, independentemente da localização final de sua atuação. 

Conclusões: A participação em um local de treinamento de pós-graduação de medicina de família "distribuído" é um importante preditor de um local de atuação não- urbana. Este efeito persiste por 10 anos após a conclusão da residência e é independente de outros preditores de práticas não- urbana , incluindo gênero, educação rural, e formação de graduação rural. A hipótese é que este se deve não só a um currículo que suporta a preparação para este tipo de prática, mas também oportunidades para desenvolver raízes pessoais e profissionais nestas comunidades .

Leia o Abstract original:


Introduction:  Numerous strategies have been suggested to increase recruitment of family physicians to rural communities and smaller regional centers. One approach has been to implement distributed postgraduate education programs where trainees spend substantial time in such communities. The purpose of the current study was to compare the eventual practice location of family physicians who undertook their postgraduate training through a single university but who were based in either metropolitan or distributed, non-metropolitan communities.
Methods:  Since 1998, the Department of Family Practice at the University of British Columbia in Canada has conducted an annual survey of its residents at 2, 5, and 10 years after completion of training. The authors received Ethics Board approval to use this anonymized data to identify personal and educational factors that predict future practice location.
Results:  The overall response rate was 45%. At 2 years (N=222), residents trained in distributed sites were 15 times more likely to enter practice in rural communities, small towns and regional centers than those who trained in metropolitan teaching centers. This was even more predictive for retention in non-urban practice sites. Among the subgroup of physicians who remained in a single practice location for more than a year preceding the survey, those who trained in smaller sites were 36 times more likely to choose a rural or regional practice setting. While the vast majority of those trained in metropolitan sites chose an urban practice location, a subgroup of those with some rural upbringing were more likely to practice in rural or regional settings. Trainees from distributed sites considered themselves more prepared for practice regardless of ultimate practice location.
Conclusions:  Participation in a distributed postgraduate family medicine training site is an important predictor of a non-urban practice location. This effect persists for 10 years after completion of training and is independent of other predictors of non-urban practice including gender, rural upbringing, and rural undergraduate training. It is hypothesized that this is due not only to a curriculum that supports preparedness for this type of practice but also to opportunities to develop personal and professional roots in these communities.

Key words: Canada, distributed training, family medicine, postgraduate medical education, professional practice location.

O artigo está disponível em:

Publicado originalmente por Leonardo Savassi em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Serviços com Alto Escore à APS previnem complicações do diabetes.

A qualidade da atenção primária e o manejo do diabetes mellitus


O artigo segue a linha de avaliação da APS de Porto Alegre pelo PCA-Tool, desta vez avaliando os aspectos relacionados a Diabetes. Embora a diferença do controle glicêmico não tenha sido significativa entre os dois grupos (desfecho intermediário), os desfechos relevantes foram: aqueles serviços que foram classificados como de "Alto Escore à APS" demonstraram maior atenção à prevenção das complicações do diabetes e melhor cuidado aos pacientes com doença de maior complexidade.

1) Leia o resumo: 

Resumo:
Objetivos: Investigar a associação entre qualidade da atenção primária à saúde (APS) e manejo do diabetes mellitus (DM) nos adultos portadores de DM adscritos aos serviços de APS em Porto Alegre, Brasil.
Métodos: Estudo transversal de base populacional, com adultos portadores de DM. A qualidade da APS foi aferida pelo Primary Care Assesment Tool (PCATool-Brasil). A análise estatística foi realizada por regressão de Poisson com variação robusta.
Resultados: Dos 3.014 entrevistados, 205 (6,8%) eram portadores de DM, com predomínio do sexo feminino (64,4%) e cor branca (68,3%). Os portadores de diabetes classificados como de Alto Escore apresentavam prevalência maior, tanto no tempo de doença (10,9 vs 8,4 anos, p=0,03) quanto em complicações do diabetes (73,9% vs 58,8%, p=0,02). A proporção de entrevistados com ótimo controle glicêmico não diferenciou entre os grupos (31,7% vs 38%, p=0,3). Na análise multivariável, serviços com Alto Escore à APS apresentaram melhor perfil de cuidados para a prevenção das principais comorbidades. Os manejos que diferiram estatisticamente foram a aferição da pressão arterial (RP=1,07; IC95% 1,01-1,14); solicitação de perfil lipídico (RP=1,23; IC95% 1,09-1,39); orientação de atividade física (RP=1,50; IC95% 1,21-1,86); exame dos pés (RP=2,08; IC95% 1,54-2,81); e orientações de cuidados com os pés (RP=2,02; IC95% 1,56-2,61).
Conclusão: Serviços com Alto Escore à APS demonstraram maior atenção à prevenção das complicações do diabetes e melhor cuidado aos pacientes com doença de maior complexidade, mas não diferiram significativamente dos demais serviços no controle glicêmico.

2) Acesse o artigo em:




Publicado originalmente em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com por Leonardo C M Savassi