segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Uso de Anticonvulsivantes na gravidez: usar traz menos riscos que não usar? o desfecho do aborto espontâneo

Use of antiepileptic drugs during pregnancy and risk of spontaneous abortion and stillbirth: population based cohort study

doi: http://dx.doi.org/10.1136/bmj.g5159

O uso de anticonvulsivantes em pessoas com epilepsia durante a gravidez parece não aumentar o risco de aborto espontâneo, de acordo com um estudo observacional no BMJ.

A partir de registros dinamarqueses, os pesquisadores examinaram 983.305 gestações de 1997 a 2008, das quais 11% resultaram em aborto espontâneo e 0,3% em natimortos.

No geral, 0,5% das gestantes foram expostas a anticonvulsivantes. Após ajuste multivariado, embora a exposição ao uso de anticonvulsivantes fosse associada a um risco aumentado de 13% para o aborto espontâneo em relação ao não-exposição, este aumento foi significativo apenas entre as mulheres sem epilepsia:

"(...) o risco de aborto espontâneo não foi aumentado em mulheres com diagnóstico de epilepsia (RR=0,98, IC=0,87-1,09), apenas em mulheres sem diagnóstico de epilepsia (RR=1,30, IC=1,14-1,49)." 

Além disso, quando as gravidezes consecutivas de uma mesma mulher eram discordantes para o uso do anticonvulsivante (ou seja, não uso em uma e uso em outra) os anticonvulsivantes não se associaram com aborto espontâneo.

"Em uma análise incluindo mulheres com pelo menos duas gestações com uso discordante antiepiléptico (por exemplo, usar na primeira gravidez, mas não no segundo), a taxa de risco ajustada para o aborto espontâneo foi de 0,83 (IC=0,69 a 1,00) para mulheres grávidas expostas em comparação com gravidezes não expostos." 

Os investigadores concluem, portanto, que a confusão residual poderia explicar o risco aumentado observado na análise principal.

Os anticonvulsivantes também não foram significativamente associados com o risco de morte fetal, embora os pesquisadores entendam a descoberta "imprecisa".

Embora este estudo não seja suficiente para se afirmar que anticonvulsivantes são seguros na gravidez (mesmo porque trata-se de uma coorte retrospectiva), ele amplia as evidências de que os riscos associados com o não-tratamento/ não manutenção do tratamento de epilepsia materna podem ser piores do que aqueles associados com o uso de anticonvulsivantes.

Acesse o artigo em livre acesso aqui:



Publicado originalmente em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com por Leonardo C M Savassi.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Estudo reforça ligação entre baixos níveis de vitamina D e demência.

Vitamin D and the risk of dementia and Alzheimer disease


Um novo estudo na revista Neurology amplia as evidências da associação de deficiência de vitamina D com maior risco de demência e doença de Alzheimer (DA).

Foram acompanhados cerca de 1.700 adultos mais velhos livres de demência, AVC, doença cardiovascular, que foram submetidos a medição de 25-hidroxivitamina D sérica e seguidos por aproximadamente 6 anos. Durante esse período, cerca de 170 haviam desenvolvido demência por todas as causas e 100 desenvolveram DA.

Em comparação com os participantes com níveis basais suficiente de vitamina D (50 nmol / L ou mais), naqueles com níveis deficientes (25-50 nmol / L) os riscos para demência por qualquer causa aumentaram de forma significativa (risco relativo = 1.5) assim como especificamente para DA (risco relativo =  1.7). Os riscos relativos foram ainda maiores para aqueles com níveis gravemente deficientes de vitamina D (risco relativo =  2.2 para qualquer demência ou DA).

Os resultados deste estudo apontaram que a deficiência de vitamina D está associada com um risco substancialmente maior de todas as causas de demência e doença de Alzheimer.

Leia o resumo traduzido:

Objetivo: Determinar se a baixas concentrações de vitamina D estão associados com um risco aumentado de incidência de demência por todas as causas e doença de Alzheimer.

Métodos: 1.658 idosos ambulatoriais adultos livres de demência, doença cardiovascular e acidente vascular cerebral que participaram do "Estudo de Saúde Cardiovascular" (Cardiovascular Health Study) de base populacional dos Estados Unidos entre 1992-1993 e 1999 foram incluídos. Concentrações séricas 25-hidroxivitamina D (25 (OH) D)foram determinadas por espectrometria de massa via cromatografia líquida em tandem a partir de amostras de sangue recolhidas em 1992-1993. As incidências de demência por  todas as causas e doença de Alzheimer foram avaliadas durante o seguimento pelo critério de National Institute of Neurological and Communicative Disorders and Stroke/Alzheimer's Disease and Related Disorders Association.

Resultados: Durante um período de acompanhamento médio de 5,6 anos, 171 participantes desenvolveram todas as causas de demência, incluindo 102 casos de doença de Alzheimer. Usando modelos de riscos proporcionais de Cox, as taxas de risco multivariado ajustado (95% intervalo de confiança [IC]) para incidentes de todas as causas de demência em participantes que eram gravemente deficientes para 25(OH)D  (<25 .="" 1="" 2="" 95="" a="" ajustada="" alzheimer="" an="" as="" com="" compara="" concentra="" de="" deficientes="" doen="" e="" em="" eram="" es="" foram="" gravemente="" i="" incidentes="" l="" lise="" multivariada="" nbsp="" nmol="" o="" os="" para="" participantes="" que="" risco="" suficientes="" taxas="">multivariate adjusted penalized smoothing spline plots
), o risco de todas as causas de demência e doença de Alzheimer foram marcadamente aumentadas com um limite abaixo de 50 nmol/ L.
Conclusão: Os resultados confirmam que a deficiência de vitamina D está associada com um risco substancialmente maior de todas as causas de demência e doença de Alzheimer. Isso contribui para o debate em curso sobre o papel da vitamina D em condições não-ósseas.

Acesse o artigo em:






Publicado originalmente em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Benefícios da aspirina profilática para o câncer

Estimates of benefits and harms of prophylactic use of aspirin in the general population


O uso diário de aspirina em baixa dose por no mínimo cinco anos parece ter mais benefícios do que malefícios, ao menos em termos de prevenção do câncer, de acordo com uma revisão publicada na Annals of Oncology.

A revisão encontrou redução na incidência de câncer e mortalidade nas doses entre 75 e 325 mg por dia, com início entre os 50 e os 65 anos, com aparente benefício  relacionado diretamente ao tempo de uso.

Homens e mulheres com risco médio que tomaram aspirina durante uma década obtiveram reduções de 9% e 7%, respectivamente, na taxa de câncer, infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral em 15 anos.

 Os pesquisadores descobriram benefícios substanciais em termos de câncer colorretal, de esôfago, de câncer gástrico e na mortalidade. Reduções nos casos de câncer de mama, pulmão e próstata foram mais modestas. O uso de aspirina foi associado com aumento do risco de eventos hemorrágicos, mas os benefícios de prevenção do câncer superaram esse risco no estudo.

Leia o Abstract Traduzido:

Background  As evidências acumuladas sustentam um efeito da aspirina na redução da incidência de câncer em geral e mortalidade na população em geral. Foram revistos os dados atuais e avaliados os benefícios e malefícios do uso profilático de aspirina na população em geral.

Métodos Foram avaliados os efeitos da aspirina para a incidência de câncer sítio-específico e mortalidade e eventos cardiovasculares a partir dos mais recentes revisões sistemáticas. Estudos identificados por meio de busca sistemática no Medline forneceram dados sobre os efeitos nocivos das taxas de aspirina e basais de danos, como hemorragia gastrointestinal e úlcera péptica.

Resultados Os efeitos da aspirina sobre o câncer não são aparentes até, pelo menos, três anos após o início do uso, e alguns benefícios são sustentados por vários anos após a interrupção em usuários de longo prazo. São observadas diferenças entre doses baixas e padrão de aspirina, mas não houve comparações diretas. Doses mais altas não parecem conferir  benefício, mas aumento adicional de toxicidade. O excesso de sangramento é o dano mais importante associado com o uso de aspirina, e seu risco e taxa de mortalidade aumentam com a idade. Para os indivíduos de risco médio com idades entre 50-65 anos tomar aspirina por 10 anos, haveria uma redução relativa de 7% (mulheres) e 9% (homens) no número de câncer, infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral sobre um período de 15 anos e 4% de redução relativa geral todas as mortes ao longo de um período de 20 anos.

Conclusões O uso de aspirina profilática por um mínimo de 5 anos, em doses entre 75 e 325 mg/ dia parece ter perfil favorável de danos vs. benefício; o uso prolongado é mais propenso a ter maiores benefícios. Mais pesquisas são necessárias para determinar a dose ótima e a duração do uso, para identificar indivíduos com risco aumentado de hemorragia, e para testar a eficácia do screening de erradicação de Helicobacter pylori, antes de iniciar a profilaxia de aspirina.

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Publicado originalmente por Leonardo Savassi em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Adultos norte-americanos segurados não estão recebendo atenção preventiva

Relationship of Income and Health Care Coverage to Receipt of Recommended Clinical Preventive Services by Adults — United States, 2011–2012


Segundo os autores do NEJM Journal Watch, baseados em uma constatação do MMWR do CDC publicado em 08 de agosto, um em cada três adultos norte-americanos não recebe cuidados preventivos adequados, independentemente do status de seguro ou de renda.

Os pesquisadores do CDC analisaram dados da Pesquisa Nacional de Saúde estadunidense entre 2011-2012, com foco em seis serviços preventivos recomendados pelas agências de saúde dos EUA: o teste de HIV; discussão sobre a cessação do tabagismo; e aconselhamento sobre quatro vacinas: influenza, pneumococo, tétano e zoster.

 A porcentagem de adultos que receberam esses serviços variou de 18% para a vacinação zoster a 62% de vacinação antitetânica. Adultos com seguros e aqueles com rendimentos mais elevados (mais de 200% do nível de pobreza federal) eram mais propensos a receber todos os serviços, exceto o teste de HIV, em comparação com aqueles sem seguro e aqueles com rendimentos mais baixos.

No entanto, mesmo entre os adultos com seguro e rendimentos mais elevados, menos da metade recebeu três dos serviços (o teste de HIV, vacinação contra a gripe, a vacinação contra zoster).

Ainda que estes seis serviços sejam cobertos pelo Affordable Care Act, os autores concluem estes achados sugerem que "esforços adicionais para além de expansão de cobertura de seguro podem ser necessários para aumentar oferta e utilização dos serviços."

O Affordable Care Act reduziu a barreira do custo para os cuidados, com a expansão do acesso ao seguro e exigindo que muitos planos de saúde cubram certos serviços preventivos recomendados, sem co-pagamentos ou franquias.


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Publicado originalmente por Leonardo C M Savassi em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Complicações de Influenza em Pronto-atendimento de Pediatria

Severe Complications in Influenza-like Illnesses


Artigo da Pediatrics de 04 de agosto alerta para possíveis indicadores de maior risco em pediatria. É importante antes de mais nada lembrar que a casuística de um Pronto Atendimento de Hospital terciário não tem validade externa ao se discutir a prevalência de casos complicados em serviços de Atenção Primária.
Os autores avaliaram o desenvolvimento de complicações graves em crianças que apresentam ao Pronto Atendimento (PA) com doença gripal moderada a grave partindo da premissa de que dados sobre complicações da infecção respiratória superior são limitados.

Foi realizado um estudo prospectivo de coorte de crianças de 0 a 19 anos, para um P.A. de hospital de cuidados terciários infantil durante as estações de pico de doenças respiratórias virais entre 2008 e 2010. Os indivíduos incluídos tinham doença gripal moderada a grave, definida pelo desempenho da punção venosa e reação em cadeia da polimerase multiplex nasofaríngea para vírus respiratórios. As complicações graves (insuficiência respiratória, encefalopatia, convulsões, pneumonia, bacteremia, a morte) foram prospectivamente determinados e fatores de risco para complicações graves foram coletadas, incluindo dados demográficos, comorbidades e exposições domésticas.

Houve 241 indivíduos inscritos classificados como crianças com doença gripal moderada a grave; com idade mediana de 27,4 meses variação interquartil 8,9-68,5); 59,3% eram do sexo masculino e 48,5% eram negros. Condições de alto risco estavam presentes em 53,5%. Complicações graves desenvolveram-se em 35,3% (95% intervalo de confiança [IC] 29,3-41,3), mais freqüentemente pneumonia (26,1%). O risco de complicações graves foi maior nos indivíduos com condições neurológicas ou neuromusculares (risco relativo 4,0, IC 95% 1,9-8,2). Nenhum vírus respiratório específico foi associado ao desenvolvimento de complicações graves. Entre os pacientes com gripe, as complicações graves foram maiores com a infecção pelo subtipo H1N1 (risco relativo de 1,45, 95% CI 0,99-2,13, P = 0,048), e estavam em maior risco de pneumonia (risco relativo 4,2, IC 95% 1,2-15,9) .

Os autores concluíram que, em crianças que apresentam a um PA para doença gripal moderada a grave, aqueles com distúrbios neurológicos e doenças neuromusculares estão em risco aumentado para complicações graves. Desenvolvimento de complicações graves não diferiram infectando vírus; contudo, o risco de complicações graves foi maior com o subtipo H1N1 em comparação com outro tipo de gripe.

É importante salientar que não há complicações em 1/3 de todas as crianças com gripe, e sim naquelas com quadro gripal moderado a grave. E que mesmo nessas, apenas uma em cada três evoluiu com complicações relevantes, que parecem estar associadas mais fortemente a problemas neurológicos e doenças neuromusculares.

O artigo está disponível em:




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Leia também: Recomendações para uso de Palivizumab como profilaxia para o Vírus Sincicial Respiratório nos primeiros dois anos de vida. Disponível em:





"Updated Recommendations for Palivizumab Prophylaxis During the First 2 Years of Life"

Publicado originalmente por Leonardo C M Savassi em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com