Estatinas são muito questionadas enquanto estratégias de prevenção primária de eventos cardiovasculares. Disturbios da concentração plasmática dos lípides são exames alterados, assintomáticos, e por isto mesmo, não são doenças, mas fatores de risco, e recaem nos preceitos da prevenção quaternária.
No caso da osteoporose, aparentemente, a inibição da HMG-CoA-redutase, mecanismo de ação das estatinas, pode influenciar na patogênese da osteoporose, entendendo que a relação entre a síntese do colesterol e os hormônios sexuais possam resultar em aumento do risco das doenças da estrutura e qualidade óssea.
O que este estudo traz
Leonardo Fontenelle, do Blog, comentou no Grupo de Discussões da SBMFC:
Aparentemente, o uso de estatinas está associado ao diagnóstico de osteoporose.
Não encontrei qualquer tentativa de controlar para o que me parece ser o confundidor mais óbvio: falta de prevenção quaternária.Para qualquer risco cardiovascular e qualquer risco de fraturas patológicas, alguns pacientes e alguns médicos são mais propensos a prescrever estatina e/ou solicitar densitometria do que outros, e eu não me surpreenderia se as características caminhassem de mãos dadas.
Por outro lado, há um gradiente de dose-efeito, e (entre as pessoas com 40 anos) a associação é razoavelmente forte.
Além disso, não foi só a osteoporose que se mostrou associada às estatinas; o risco de fraturas também aumento com a dose das estatinas. Ao contrário do que eu esperaria, parece que a idade dos participantes da pesquisa é bem semelhantes entre as doses de estatinas, o que afastaria isso como um confundidor.
Em resumo, por enquanto quem quiser falar mal de estatinas vai ter mais uma desculpa; e a gente fica na torcida para sair um estudo de coorte, mesmo que retrospectivo.
Por Leonardo Ferreira Fontenelle - ORCID iD: 0000-0003-4064-433X, Twitter:@doutorleonardo.
Leia o Abstract traduzido:
Objetivo: Se a inibição da HMG-CoA-redutase, o principal mecanismo das estatinas, desempenha um papel na patogênese da osteoporose, ainda não é totalmente conhecido. Consequentemente, este estudo foi proposto para investigar a relação de diferentes tipos e dosagens de estatinas com osteoporose, hipótese de que a inibição da síntese do colesterol possa influenciar os hormônios sexuais e, portanto, o diagnóstico de osteoporose. Métodos: Foram requisitados dados médicos de todos os austríacos de 2006 a 2007 e usados para identificar todos os pacientes tratados com estatinas para calcular suas médias diárias de dose para seis tipos diferentes de estatinas. Aplicada regressão logística múltipla para analisar os riscos dependentes da dose de serem diagnosticados com osteoporose para cada estatina individualmente
Resultados: Na população geral do estudo, o tratamento com estatina foi associado a uma presença elevada da osteoporose diagnosticada em comparação com os controles (OR: 3,62, IC 95% 3,55 a 3,69, p < 0,01). Houve uma dependência altamente não trivial da dose de estatina com os ORs da osteoporose. A osteoporose foi menos presente no tratamento com doses baixas de estatina (0-10 mg por dia), incluindo lovastatina (OR: 0,39, IC 0,18 a 0,84, p < 0,05), pravastatina (OR: 0,68, IC 95% 0,52 a 0,89, p < 0,01), sinvastatina (OR: 0,70, IC 95% 0,56 a 0,86, p < 0,01) e rosuvastatina (OR: 0,69, IC 95% 0,55 a 0,87, p < 0,01). No entanto, o excedente do limiar de 40 mg para sinvastatina (OR: 1,64, IC 95% 1,31 a 2,07, p < 0,01) e o excedente do limiar de 20 mg para atorvastatina (OR: 1,78, IC 95% 1,41 a 2,23, p < 0,01) e para a rosuvastatina (OR: 2,04, IC 95% 1,31 a 3,18, p < 0,01) foi relacionada a uma super-representação da osteoporose.
Conclusão: Os resultados mostram que o diagnóstico de osteoporose em pacientes tratados com estatina é dependente da dose. Assim, a osteoporose é menos presente em doses baixas e mais presente no tratamento com doses elevadas de estatina, demonstrando a importância de estudos futuros que levem em consideração a dependência da dose ao investigar a relação entre estatinas e osteoporose.
Acesse o artigo:
O estudo está disponível em livre acesso em:
Publicado originalmente em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com
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