Medicina de família no Brasil
Ainda é necessário estimular a atenção primária
Por: Airton Tetelbom Stein
Professor de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Ciências de Saúde de Porto Alegre (Ufcspa), professor da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e coordenador de Avaliação de Tecnologia em Saúde do Grupo Hospitalar Conceição (GHC)
Gustavo Gusso
Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade
Em 1990, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi implementado, caracterizando-se como um grande avanço no sistema público no Brasil. Em 1988, uma reforma constitucional definiu o sistema com um conceito de saúde abrangente e inclui os seguintes princípios: acesso universal, equidade, descentralização, regionalização, hierarquia dos serviços de saúde e participação social. Nesse contexto, a saúde é vista como um direito do cidadão e um dever do Estado. Em 2006, o país gastava 7,5% do total do PIB em saúde (3,5% público e 4% privado), mas existe uma distribuição desigual na alocação de recursos nesse setor saúde.1
A equidade é um princípio de justiça social que tem por objeivo diminuir a distribuição desigual dos serviços de saúde no país, levando em consideração as diferentes necessidades da população. Os médicos têm de lidar com os aspectos éticos, os quais levam a uma abordagem mais centrada no paciente.
Uma publicação da Organização Mundial de Saúde (OMS) intitulada “Atenção primária em saúde: agora mais do que nunca” afirma que a fonte do problema é que o sistema de saúde e a agenda nessa área têm focado os serviços curativos.2
De acordo com o Ministério da Saúde, existem 30.000 equipes de atenção primária, as quais cobrem 97 milhões de pessoas em todo o país e integram a chamada Estratégia de Saúde da Família (ESF).3,4 A ESF tem uma ênfase na comunidade e valoriza a competência cultural para identificar e solucionar a maior parte das necessidades em termos de saúde.
A equipe multidisciplinar da ESF consiste de um médico, uma enfermeira, uma técnica de enfermagem e vários agentes comunitários que são responsáveis por 2.400 a 4.000 pessoas em uma área geográfica definida.5
A ESF é uma boa oportunidade para iniciar a mudar o sistema de saúde com o foco na atenção primária em saúde. A tarefa principal desses profissionais é promover a qualidade de vida e contribuir para diminuir a iniquidade que ocorre em um país como o Brasil.
Estima-se que 75% da população brasileira dependem exclusivamente do SUS para ter acesso a serviços de saúde. Além do atendimento básico, existe uma série de serviços hospitalares que estão disponíveis, tais como cirurgia cardíaca e recursos diagnósticos e terapêuticos sofisticados. Existe a necessidade de maior aporte de recursos para o setor saúde, assim como estratégias para incentivar a atenção primária. Por exemplo, devem ser identificadas propostas efetivas para que o médico da ESF possa ter estabilidade em seu local de trabalho.
Atualmente, existe envolvimento dos governos para acelerar as ações em saúde relacionadas às Metas de Desenvolvimento do Milênio. Assim, é muito importante avaliar criticamente a experiência brasileira para identificar políticas de saúde e estratégias a fim de enfatizar o sistema de saúde e prestar intervenções efetivas.
Em um relatório recente, a OMS afirma que a atenção primária continua sendo a forma mais efetiva para prover um maior acesso a serviços de saúde, e essa estratégia é a chave para o sucesso do SUS.6
Uma das principais metas da ESF é diminuir a mortalidade infantil, e um estudo ecológico bem-delineado mostrou que essa estratégia impactou significativamente na redução na mortalidade relacionada à diarreia em crianças menores de 5 anos. De 1990 para 2002, em crianças nessa faixa etária, a mortalidade causada pela diarreia diminuiu de 12% para 5%.7
Desenvolvimento da medicina de família no Brasil
A história da medicina de família tem quatro fases. Antes da década de 1980, não era reconhecida como uma especialidade, e aqueles que não realizavam a sua atividade no hospital não tinham formação específica para exercer essa tarefa. A segunda fase iniciou após 1981, quando os programas de residência foram reconhecidos pelo governo federal e o nome da especialidade era, então, medicina geral e comunitária. A maioria dos programas de residência durante esse período enfatizava mais a abordagem individual do que a prática coletiva.
Um desses programas, o qual está ativo desde 1981, foi criado no Grupo Hospitalar Conceição (GHC) pelo Dr. Carlos Grossman e contou com um programa de cooperação através do Conselho Britânico. Vários colegas ingleses desenvolveram uma parceria de apoio para estimular a residência de medicina de família e o conceito de atenção primária. Nessa segunda fase, o médico geral e comunitário não tinha uma posição adequada no mercado e trabalhava em serviços estruturados. Muitas vezes, essa formação especializada não era valorizada.
A terceira fase foi implementada em 1994, quando a ESF3,4 teve início e essa especialidade foi identificada como fundamental para o recurso médico. Foi a primeira vez que a medicina de família teve a chance de desenvolver o seu campo como uma profissão. O quarto período iniciou em 2003, quando a Associação Médica Brasileira reconheceu-a como uma especialidade e mudou a denominação de medicina geral e comunidade para medicina de família e comunidade.
As etapas descritas sobrepõem-se, considerando que ainda hoje o número de médicos de família e comunidade treinados em um programa de residência não é suficiente para todas as posições disponíveis da ESF. Além disso, ainda existem muitos médicos que trabalham na atenção primária, mas não tiveram um treinamento adequado. Um dos principais problemas da ESF é o número elevado de profissionais que não permanecem na mesma posição por um longo período.
O número de programas de residência em medicina de família e comunidade aumentou de 8 em 1998 para 65 em 20098, o que indica uma tendência de aumento no número de médicos de atenção primária. A maior parte dos programas também inclui o treinamento de outros profissionais da saúde.
Há menos de 2.000 médicos de família e comunidade com residência ou com certificado dessa especialidade pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade de um total de 30 mil que estão trabalhando na ESF. O Ministério da Saúde fornece incentivos financeiros para os municípios que contratam esses especialistas como estratégia para estimular a formação.
Existem várias estratégias no país para aumentar a qualidade do padrão na atenção primária, como, por exemplo, o UNASUS (aprendizado a distância de atenção primária), o desenvolvimento de um site de pesquisa em atenção primária (www.rededepesquisaaps.org.br), o desenvolvimento de diretrizes clínicas especificamente para médicos de família e a organização de conferências em atenção primária.
Apesar das especificidades da história da medicina de família no Brasil, os assuntos mais relevantes estão de acordo com a literatura europeia e americana. Alguns dos autores que influenciam os programas de residência de medicina de família e comunidade no Brasil são Barbara Starfield9, Ian McWhinney10 e John Fry,11 havendo documentos relevantes na formação para especialistas dessa área.12,13
O Brasil prepara-se para adotar políticas que serão conduzidas pela nova presidente da república, e a melhora da qualidade do serviço de saúde consta na agenda de discussões. De acordo com um artigo publicado na Folha de São Paulo, o foco durante a campanha à presidência enfatizava mais o atendimento de alta complexidade e o atendimento emergencial.14 No entanto, existe uma necessidade de estimular a atenção primária, como foi previsto em um editorial publicado no BMJ em 1995.15
Referência:
1.Machado CV. Health priorities in Brazil in the 1990s: three policies, many lessons. Rev Panam Salud Publica 2006;20:44-49.
2.World Health Organization. The world health report 2008: primary health care now more than ever. 1. World health – trends. 2. Primary health care – trends. 3. Delivery of health care. 4. Health policy.
3.Brasil, Ministério da Saúde. Programa de Saúde da Família: saúde dentro de casa. Brasília: Ministério da Saúde/Fundação Nacional de Saúde, 1994.
4.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
5.Magalhães R, Senna M. Local implementation of the Family Health Program in Brazil. Cad Saúde Pública. 2006;22:2549-59.
6.News. Flawed but fair: Brazil´s health system reaches out to the poor. Bulletin of the World Health Organization. April 2008, 86(4).
7.Macinko J, Guanais FC, de Fátima M, de Souza M. Evaluation of the impact of the Family Health Program on infant mortality in Brazil, 1990-2002. J Epidemiol Community Health. 2006;60:13-9.
8.MEC [homepage on the internet] Ministério da Educação [cited 2010 Sep 20]. Available from: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12263&Itemid=506
9.Starfield B. Primary care: balancing health needs, services, and technology. New York: Oxford University Press, 1998.
10.McWhinney IR. A textbook of family medicine. 2nd edition. New York: Oxford University Press, 1997.
11.Fry J. A new approach to medicine. Lancaster: MTP Press Limited, 1978.
12.Wonca Europe (The European Society of General Practice/ Family Medicine). The European Definition of General Practice/Family Medicine. 2nd edition, 2005.
13.Royal College of General Practitioners. Good Medical Practice for General Practitioners. Royal College of General Practitioners, 2002.
14.Folha de São Paulo. Foco da saúde está errado, dizem médicos. Edição de 19 de setembro de 2010, p. 9, Eleições 2010.
15.Haines A, Wartchow E, Stein A, Dourado EM, Pollock J, Stilwell B. Primary care at last for Brazil? BMJ 1995;310:1346.
Publicado originalmente em : http://www.bmjbrasil.com.br/MateriaDetalhe.aspx?MateriaID=bfd85f8b-b6df-4f91-aea9-039cfa9daddc&TipoMateria=3&EdicaoID=b4622801-add5-4c16-941f-1fd273130852&SecaoID=186b04e8-60fe-4d5f-bc16-069073b5f5c2
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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Tipos de família
Eu costumo dizer para os meus pacientes e para os alunos que família é algo extremamente complexo: cada um tem a sua e sabe bem o que eu estou falando! :-)
Dentre os vários tipos de família, os estudiosos portugueses, poderíamos dividir os tipos de família pela estrutura e dinâmica global, pela relação parental e pela relação conjugal.
(in Novos Tipos de Família de Hernâni Caniço, Pedro Bairrada, Esther Rodríguez, Armando Carvalho
Imprensa da Universidade de Coimbra, Junho 2010)
Assim, temos:
Pela estrutura e dinâmica global
Família Díade Nuclear:
Duas pessoas em relação conjugal sem filhos (não há
descendentes comuns nem de relações anteriores de cada
elemento).
Família Grávida:
Família em que uma mulher se encontra grávida, independente
da restante estrutura.
Família Nuclear ou Simples:
Uma só união entre adultos e um só nível de descendência pais
e seu(s) filho(s).
Família Alargada ou Extensa :
Co-habitam ascendentes, descendentes e/ou colaterais por consanguinidade ou não, para além de progenitor(es) e/ou filho(s).
Família com prole extensa ou numerosa:
Família com crianças e jovens de idades muito diferentes, independentemente da restante estrutura familiar
Família Reconstruída, Combinada ou Recombinada:
Família em que existe uma nova união conjugal, com ou sem descendentes de relações anteriores, de um ou dos dois cônjuges.
Família Homossexual: Família em que existe uma união conjugal entre 2 pessoas do
mesmo sexo, independentemente da restante estrutura.
Família Monoparental:
Família constituída por um progenitor que co-habita com o(s) seu(s) descendente(s).
Família Dança a Dois:
Família constituída por familiares (de sangue ou não) sem relação conjugal ou parental (ex: avó e neto, tia e sobrinha, irmãos, primos, cunhados,…).
Família Unitária:
Família constituída por uma pessoa que vive sozinha, independentemente de relação conjugal sem co-habitação.
Família de Co-habitação:
Homens e /ou Mulheres que vivem na mesma habitação sem laços familiares ou conjugais, com ou sem objectivo comum (ex: estudantes universitários, amigos, imigrantes,…).
Família Comunitária:
Família composta por homens e/ou mulheres e seus eventuais descendentes, co-habitando na mesma casa ou em casas próximas (ex: comunidades religiosas, seitas, comunas, ciganos,…).
Família Hospedeira:
Família em que ocorre a colocação temporária de um elemento exterior à família (ex: criança, idoso, amigo, colega,…).
Família Adoptiva:
Família que adoptou uma ou mais crianças não consanguíneas,
com ou sem co-habitação de filhos biológicos.
Família Consanguínea:
Família em que existe uma relação conjugal consanguínea, independentemente da restante estrutura.
Família com Dependente:
Família em que um dos elementos é dependente dos cuidados de outros por motivo de doença (acamado, deficiente mental e/ou motor, requerendo apoio nas AVDs.
Família com Fantasma Família:
com desaparecimento de um elemento de forma definitiva (falecimento) ou dificilmente reversível (divórcio,
rapto, desaparecimento, motivo desconhecido) em que o elemento em falta continua presente na dinâmica familiar dificultando a reorganização familiar e impedindo o desenvolvimento individual dos restantes membros.
Família Acordeão:
Família em que um dos cônjuges se ausenta por períodos prolongados ou frequentes (ex: trabalhadores humanitários expatriados, militares em missão, emigrantes de longa duração).
Família Flutuante:
Família em que os elementos mudam frequentemente de habitação (ex: progenitores com emprego de localização variável) ou em que o progenitor muda frequentemente de parceiro.
Família Descontrolada:
Família em que um membro tem problemas crónicos de comportamento por doença ou adicção (ex: esquizofrenia, toxicodependência, alcoolismo, etc.)
Família Múltipla:
Família em que o elemento identificado integra duas ou mais famílias, constituindo agregados diferentes, eventualmente com descendentes em ambos.
Relação Conjugal
Família Tradicional:
Família estruturada em função do género feminino/masculino, diferenciados, em que cada membro tem um papel pré estabelecido na família e na comunidade.
Família Moderna:
Família em que a igualdade de género é a base da união, qualquer que seja o seu tipo. Há inter-ajuda e solidariedade com equilíbrio estrutural e de poder entre homem e mulher.
Família Fortaleza:
Família em que a dinâmica interna tem regras pré-estabelecidas difíceis de modificar, com encerramento ao exterior, dificuldade em assumir problemas ou em adaptar-se a novas situações.
Família Companheirismo:
Família em que existe partilha e repartição de actividades, objectivos comuns, evolui com as experiências e contactos
Família Paralela:
Família em que os cônjuges não partilham actividades quotidianas nem objectivos de vida, existe atitude de encerramento ao exterior e dificuldade em conseguir abertura para modificar hábitos de vida.
Família Associação:
Família em que existe união afectiva, embora não se partilhem actividades quotidianas. Tem por base a liberdade individual e é mostra de egoísmo em determinadas circunstâncias.
Relação Parental
Família Equilibrada (estável)
Família mostra-se unida e os pais são concordantes e conscientes do seu papel .
Família Rígida (instável)
Família em há dificuldade em compreender assumir e acompanhar o desenvolvimento saudável dos filhos.
Família Super-protectora (instável)
Família em que há preocupação excessiva em proteger os filhos, sendo os pais super-controladores.
Família Permissiva (instável)
Família em que os pais não são capazes de disciplinar os filhos.
Família Centrada nos filhos (instável)
Família em que os pais não sabem enfrentar os seus próprios conflitos conjugais que desvalorizam sem avaliação e ajustamento.
Família Centrada nos pais (instável)
Família em que as prioridades dos pais focalizam-se nos projectos pessoais individuais (profissionais ou lúdicos).
Família Sem objectivos (instável)
Família em que os pais estão confusos por falta de objectivos e metas comuns.
Publicado originalmente em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com
Dentre os vários tipos de família, os estudiosos portugueses, poderíamos dividir os tipos de família pela estrutura e dinâmica global, pela relação parental e pela relação conjugal.
(in Novos Tipos de Família de Hernâni Caniço, Pedro Bairrada, Esther Rodríguez, Armando Carvalho
Imprensa da Universidade de Coimbra, Junho 2010)
Assim, temos:
Pela estrutura e dinâmica global
Família Díade Nuclear:
Duas pessoas em relação conjugal sem filhos (não há
descendentes comuns nem de relações anteriores de cada
elemento).
Família Grávida:
Família em que uma mulher se encontra grávida, independente
da restante estrutura.
Família Nuclear ou Simples:
Uma só união entre adultos e um só nível de descendência pais
e seu(s) filho(s).
Família Alargada ou Extensa :
Co-habitam ascendentes, descendentes e/ou colaterais por consanguinidade ou não, para além de progenitor(es) e/ou filho(s).
Família com prole extensa ou numerosa:
Família com crianças e jovens de idades muito diferentes, independentemente da restante estrutura familiar
Família Reconstruída, Combinada ou Recombinada:
Família em que existe uma nova união conjugal, com ou sem descendentes de relações anteriores, de um ou dos dois cônjuges.
Família Homossexual: Família em que existe uma união conjugal entre 2 pessoas do
mesmo sexo, independentemente da restante estrutura.
Família Monoparental:
Família constituída por um progenitor que co-habita com o(s) seu(s) descendente(s).
Família Dança a Dois:
Família constituída por familiares (de sangue ou não) sem relação conjugal ou parental (ex: avó e neto, tia e sobrinha, irmãos, primos, cunhados,…).
Família Unitária:
Família constituída por uma pessoa que vive sozinha, independentemente de relação conjugal sem co-habitação.
Família de Co-habitação:
Homens e /ou Mulheres que vivem na mesma habitação sem laços familiares ou conjugais, com ou sem objectivo comum (ex: estudantes universitários, amigos, imigrantes,…).
Família Comunitária:
Família composta por homens e/ou mulheres e seus eventuais descendentes, co-habitando na mesma casa ou em casas próximas (ex: comunidades religiosas, seitas, comunas, ciganos,…).
Família Hospedeira:
Família em que ocorre a colocação temporária de um elemento exterior à família (ex: criança, idoso, amigo, colega,…).
Família Adoptiva:
Família que adoptou uma ou mais crianças não consanguíneas,
com ou sem co-habitação de filhos biológicos.
Família Consanguínea:
Família em que existe uma relação conjugal consanguínea, independentemente da restante estrutura.
Família com Dependente:
Família em que um dos elementos é dependente dos cuidados de outros por motivo de doença (acamado, deficiente mental e/ou motor, requerendo apoio nas AVDs.
Família com Fantasma Família:
com desaparecimento de um elemento de forma definitiva (falecimento) ou dificilmente reversível (divórcio,
rapto, desaparecimento, motivo desconhecido) em que o elemento em falta continua presente na dinâmica familiar dificultando a reorganização familiar e impedindo o desenvolvimento individual dos restantes membros.
Família Acordeão:
Família em que um dos cônjuges se ausenta por períodos prolongados ou frequentes (ex: trabalhadores humanitários expatriados, militares em missão, emigrantes de longa duração).
Família Flutuante:
Família em que os elementos mudam frequentemente de habitação (ex: progenitores com emprego de localização variável) ou em que o progenitor muda frequentemente de parceiro.
Família Descontrolada:
Família em que um membro tem problemas crónicos de comportamento por doença ou adicção (ex: esquizofrenia, toxicodependência, alcoolismo, etc.)
Família Múltipla:
Família em que o elemento identificado integra duas ou mais famílias, constituindo agregados diferentes, eventualmente com descendentes em ambos.
Relação Conjugal
Família Tradicional:
Família estruturada em função do género feminino/masculino, diferenciados, em que cada membro tem um papel pré estabelecido na família e na comunidade.
Família Moderna:
Família em que a igualdade de género é a base da união, qualquer que seja o seu tipo. Há inter-ajuda e solidariedade com equilíbrio estrutural e de poder entre homem e mulher.
Família Fortaleza:
Família em que a dinâmica interna tem regras pré-estabelecidas difíceis de modificar, com encerramento ao exterior, dificuldade em assumir problemas ou em adaptar-se a novas situações.
Família Companheirismo:
Família em que existe partilha e repartição de actividades, objectivos comuns, evolui com as experiências e contactos
Família Paralela:
Família em que os cônjuges não partilham actividades quotidianas nem objectivos de vida, existe atitude de encerramento ao exterior e dificuldade em conseguir abertura para modificar hábitos de vida.
Família Associação:
Família em que existe união afectiva, embora não se partilhem actividades quotidianas. Tem por base a liberdade individual e é mostra de egoísmo em determinadas circunstâncias.
Relação Parental
Família Equilibrada (estável)
Família mostra-se unida e os pais são concordantes e conscientes do seu papel .
Família Rígida (instável)
Família em há dificuldade em compreender assumir e acompanhar o desenvolvimento saudável dos filhos.
Família Super-protectora (instável)
Família em que há preocupação excessiva em proteger os filhos, sendo os pais super-controladores.
Família Permissiva (instável)
Família em que os pais não são capazes de disciplinar os filhos.
Família Centrada nos filhos (instável)
Família em que os pais não sabem enfrentar os seus próprios conflitos conjugais que desvalorizam sem avaliação e ajustamento.
Família Centrada nos pais (instável)
Família em que as prioridades dos pais focalizam-se nos projectos pessoais individuais (profissionais ou lúdicos).
Família Sem objectivos (instável)
Família em que os pais estão confusos por falta de objectivos e metas comuns.
Publicado originalmente em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com
Marcadores:
abordagem familiar,
Escala de Risco Familiar
sábado, 15 de janeiro de 2011
Entrevista com James Macinko
James Macinko é um investigador dos serviços de saúde com foco na atenção primária à saúde. Desde 2003 ele trabalha como professor assistente de saúde pública de New York Sua pesquisa se concentra na avaliação do impacto das reformas e mudanças na política de saúde, desenvolvendo instrumentos para avaliar o desempenho dos cuidados primários, e explorar o vasto papel dos sistemas de saúde e serviços na produção e potencial redução das disparidades globais de saúde. Sua experiência de campo inclui a avaliação dos programas de atenção primária à saúde e políticas na América Latina e no Caribe; avaliação dos programas de desenvolvimento da micr oempresa na África e na América Latina, a assistência da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional e da Organização Mundial da Saúde para desenvolver indicadores para avaliar a prevenção de doenças infecciosas e programas de controle na África Subsaariana, a monitorização das eleições de coordenação na Etiópia, e trabalhando com as comunidades latinas, em Washington DC, Filadélfia e Nova York, para identificar e eliminar as barreiras aos cuidados de saúde primários.
Quais são os aspectos que você considera positivos e negativos ou que poderiam ser aprimorados no sistema único de saúde brasileiro?
A pergunta é importante e muito abrangente. Para mim, sobretudo alguém que vem dos EUA onde não temos sistema único de saúde, não temos o SUS. Para mim, a existência do SUS é uma coisa que me inspira muito. Todo o processo de desenvolvimento do SUS, todo processo de participação social, na criação e na construção contínua do SUS. Acho que é uma coisa maravilhosa. É uma reflexão da própria sociedade brasileira que busca uma melhora nas condições de vida e também é uma ênfase na responsabilidade do cidadão, na sua participação e do Estado nos serviços necessários pra que todos possam se desenvolver.
O que você acha importante e que poderia ser aprimorado?
Uma coisa que já vimos em várias pesquisas e que necessitam de debates e apresentações. Não é uma coisa que praticamente deva acontecer somente com o Brasil, mas é essa ênfase que continua nos cuidados agudos e nos cuidados hospitalares. Também há uma grande ênfase nos gastos do SUS que vão para os serviços mais especializados. Acho que com uma melhor distribuição de recursos, poderiam ter melhorias mais importantes pra população do Brasil.
Você acha que com os recursos que já dispõe poderia fazer mais?
Acho que poderiam ser melhor distribuídos. Isso não quer dizer que tenha que acabar com os outros, com certeza, precisa de todos os tipos de serviços. Precisa de um balanço equilibrado.
Quais são os avanços que você vê na área de APS no Brasil?
Bom, como já falei várias vezes, a área de APS no Brasil virou referência mundial. Por quê? Porque tem uma parte forte que é técnica. Se você quer que as pessoas usem uma atenção primária tem que atender os planos que eles têm. Começa com os problemas, por que, de fato, as pessoas procuram os serviços porque tem problemas. Uns com problemas mais sérios outros com problemas mais facilmente atendidos. Mas quando você começa trabalhando com os problemas, você vai aprendendo as necessidades do povo, da comunidade. Essa combinação da possibilidade de atender aos problemas da população e começar trabalhar a gradativamente com outros fatores que afetam a saúde da população por meio das ações comunitárias, nesse aspecto de visitas domiciliares, por exemplo . Eu sonho com uma coisa dessas nos EUA. Muitos americanos se quiserem fazer um exame de controle normal com meu médico de família, às vezes tenho que esperar 3, 4 ou 6 meses mesmo pagando quase 150 dólares por mês para o plano de saúde e o meu empregador na cidade paga ainda mais. É sempre interessante quando se compara o que você tem com o que os outros têm. Todo mundo acha que sua situação é pior, mas, às vezes, quando se compara com outro, não é tão ruim. Então, a APS pela construção da SF pela composição das equipes pela possibilidade de tratar nessa área de Atenção Primária, mas ir além da Atenção Primária e trabalhar mais com os comportamentos da saúde. Acho que isso é que é a coisa mais interessante de ter como modelo.
Para você, qual a importância da APS dentro do contexto sistema de saúde?
Precisa de um sistema de saúde que tenha vários componentes, mas acho que têm várias evidencias que mostram que um sistema de saúde que tem como base a Atenção Primária e que o centro do sistema é a Atenção Primária funciona melhor. Isso não quer dizer que não precise de outros, precisa sim, mas é a própria APS que coordena. Existem vários exemplos, sobretudo na Europa, que mostra que tem melhorias na eficiência, na eficácia e na efetividade do sistema. A própria APS pode funcionar, pode jogar seu papel fundamental. Muitos sistemas de saúde no mundo não deixam que a APS jogue esse papel e, por isso, acho que tem muitas opiniões sobre a validade da APS que vem mais deuma falta de experiência com uma boa APS do que uma crítica de um conceito em si.
Qual a importância que você vê nas metodologias de avaliação nos serviços de sistemas de saúde?
Cada vez que tem um sistema complexo como a organização de um município, como a organização de uma rede eficiente de saúde, não existe uma pessoa ou um grupo de pessoas que possa dar conta de tudo o que acontece. Precisa de informação, precisa de dados, dados concretos para saber onde está e para onde quer ir. Qual é a brecha entre as duas coisas? Isso é a chave da gestão. E também é a chave da ciência que, na minha opinião, esse processo de monitoramento, gestão, avaliação.Isso é uma ciência. É uma ciência porque de fato tem teorias, tem que ser testado, tem que coletar dados, tem experimentos e várias outras abordagens que vem da própria ciência. Por isso que ter mecanismos e ferramentas válidas é fundamental. Não se faria astronomia sem as ferramentas apropriadas. E como chegamos lá? É uma história de um cenário de anos de desenvolvimento das ferramentas apropriadas, as técnicas, as ciências, as medidas e tudo isso. E estamos chegando aí com a área de saúde. Claro que tem uma parte médica que tem um pouco mais tempo de desenvolvimento, mas a parte da avaliação a parte da gestão é uma ciência muito nova. Acho que por agora fazemos o melhor possível com o que já temos. Acho que ferramentas como o PCATool é um avanço porque de um lado foram validados e respondem não a opinião das pessoas, mas refletem numa avaliação da experiência das pessoas que trabalham no sistema e também a dos usuários dos serviços foram validados. Eu também achei em vários países (estava no Uruguai no mês passado) e achamos que as pessoas do parlamento, os médicos, o pessoal da escola de medicina, os alunos e todos entenderam intuitivamente o que queria dizer as medidas do PCATool e essa parte da ciência é validada com um entendimento intuitivo. Eu acho que é a magia que vem desse tipo de ferramenta.
Com a criação da rede de pesquisa criou-se um canal de comunicação e articulação entre os pesquisadores, profissionais e usuários. Na sua opinião qual será a maior contribuição para seus participantes?
Eu acho que é partindo de experiências. O que é mais importante? É claro que tem algumas questões macros como financiamento, avaliação de políticas públicas que são fundamentais, mas, de fato, tem menos dessas questões que questões cotidianas, do dia a dia. Como melhorar a prática, como enfrentar vários problemas operacionais. Então, essa continuidade de aprendizagem, essa continuidade de práticas é fundamental para isso. Dentro da REDE, eu imagino que os cadastrados vão valorizar muito esse conhecimento. Mas acho que precisa de um jeito de sistematizar um pouco, de como compartilhar essas experiências. Acho que já existem algumas outras comunidades de práticas que já sistematizaram um mecanismo de compartilhar experiências. Ao invés de só fazer uma conta às vezes precisa de uma coisa mais sistemática. Eu acho importante que essa REDE tenta ir além da REDE. Já foi dito várias vezes durante esses dias que já somos os crentes... Já cremos nesse sistema. Isso é importante, convencer os outros. Como convencê-los? Exatamente com essas experiências. As experiências pessoais falam muito mais que qualquer pesquisa com quaisquer números. O que eu aprendi falando com pessoas que tentam influenciar o sistema é que o que eles querem é uma estória de alguém, uma coisa bem específica de como a APS funcionou, como resolveu um problema, como a experiência de alguém na equipe de saúde família, por exemplo, como foi essa experiência positiva. Eu preciso de uma articulação entre os pesquisadores na REDE e a cultivação de contatos na mídia, com as pessoa s que fazem reportagens para revistas de saúde tampouco, com aqueles que trabalham com os grandes empresários como O Globo e etc. Quantos dessa lista o pessoal da REDE conhece pessoalmente? Quantas vezes eles sentam com eles e compartilham essas experiências? Já sabemos que é muito fácil, pois se alguém tem uma experiência ruim já está na primeira página. Tem essa pesquisa do Romero que apresentou ontem que a APS melhorou o problema de desemprego em alguns lugares enquanto, no meu país, isso seria primeira página. Então, tem um desconect entre o que acontece, o saber e o conhecimento que essa REDE tem e a comunicação dela. Não quero dizer que eles não se comunicam, comunicam muito bem, mas tem outro passo que é tentar garantir que esses resultados fiquem lá na primeira página e isso, provavelmente, precise de uma estrat&eac ute;gia de comunicação de largo prazo, de criação de relações com os jornalistas, os periódicos, os jornais pra cambiar um pouco como é mostrado o SUS e, sobretudo, a APS.
Você teria alguma dica, alguma idéia ou diferencial que caracterize algum pensamento seu sobre a Atenção Primaria em Saúde que você gostaria de mencionar aos que estão se dedicando a essa área?
Como disse, e digo muitas vezes, que a APS é uma área que é instigante, que merece ser melhor estudado e é uma área legítima de estudo. Em muitos países tem pessoas que se especializam em investigação em serviços de saúde. Acho que aqui no Brasil é uma coisa mais nova. Não tem, até eu saber, um doutorado, por exemplo, em investigação em serviços de saúde, mas em outros sistemas, em outros países, tem. Isso pra mim, de fato, é uma área legítima. É uma área que dá muito prazer, satisfação e é um vínculo entre a parte teórica e, eu diria a parte quantitativa e qualitativa porque você tem que traduzir todos os resultados em exemplos que as pessoas possam entender. Então, para qualquer pessoa que queira trabalhar nessa á rea como prestador de serviços, enfermeiro, médico ou agente comunitário de saúde primeiro tem que saber as pessoas que valorizam o trabalho que faz, mas para pessoas que querem estudar isso, eles têm que também saber que existe todo um mundo e que eles vão fazer parte dessa outra comunidade que vai além do Brasil que engloba e que, de fato, faz uma comunidade mundial.
Original da REDE APS, sugestão do nosso colaborador e colega Leonardo Ferreira Fontenelle, confira seu blog http://leonardof.med.br
Publicado em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com/
Quais são os aspectos que você considera positivos e negativos ou que poderiam ser aprimorados no sistema único de saúde brasileiro?
A pergunta é importante e muito abrangente. Para mim, sobretudo alguém que vem dos EUA onde não temos sistema único de saúde, não temos o SUS. Para mim, a existência do SUS é uma coisa que me inspira muito. Todo o processo de desenvolvimento do SUS, todo processo de participação social, na criação e na construção contínua do SUS. Acho que é uma coisa maravilhosa. É uma reflexão da própria sociedade brasileira que busca uma melhora nas condições de vida e também é uma ênfase na responsabilidade do cidadão, na sua participação e do Estado nos serviços necessários pra que todos possam se desenvolver.
O que você acha importante e que poderia ser aprimorado?
Uma coisa que já vimos em várias pesquisas e que necessitam de debates e apresentações. Não é uma coisa que praticamente deva acontecer somente com o Brasil, mas é essa ênfase que continua nos cuidados agudos e nos cuidados hospitalares. Também há uma grande ênfase nos gastos do SUS que vão para os serviços mais especializados. Acho que com uma melhor distribuição de recursos, poderiam ter melhorias mais importantes pra população do Brasil.
Você acha que com os recursos que já dispõe poderia fazer mais?
Acho que poderiam ser melhor distribuídos. Isso não quer dizer que tenha que acabar com os outros, com certeza, precisa de todos os tipos de serviços. Precisa de um balanço equilibrado.
Quais são os avanços que você vê na área de APS no Brasil?
Bom, como já falei várias vezes, a área de APS no Brasil virou referência mundial. Por quê? Porque tem uma parte forte que é técnica. Se você quer que as pessoas usem uma atenção primária tem que atender os planos que eles têm. Começa com os problemas, por que, de fato, as pessoas procuram os serviços porque tem problemas. Uns com problemas mais sérios outros com problemas mais facilmente atendidos. Mas quando você começa trabalhando com os problemas, você vai aprendendo as necessidades do povo, da comunidade. Essa combinação da possibilidade de atender aos problemas da população e começar trabalhar a gradativamente com outros fatores que afetam a saúde da população por meio das ações comunitárias, nesse aspecto de visitas domiciliares, por exemplo . Eu sonho com uma coisa dessas nos EUA. Muitos americanos se quiserem fazer um exame de controle normal com meu médico de família, às vezes tenho que esperar 3, 4 ou 6 meses mesmo pagando quase 150 dólares por mês para o plano de saúde e o meu empregador na cidade paga ainda mais. É sempre interessante quando se compara o que você tem com o que os outros têm. Todo mundo acha que sua situação é pior, mas, às vezes, quando se compara com outro, não é tão ruim. Então, a APS pela construção da SF pela composição das equipes pela possibilidade de tratar nessa área de Atenção Primária, mas ir além da Atenção Primária e trabalhar mais com os comportamentos da saúde. Acho que isso é que é a coisa mais interessante de ter como modelo.
Para você, qual a importância da APS dentro do contexto sistema de saúde?
Precisa de um sistema de saúde que tenha vários componentes, mas acho que têm várias evidencias que mostram que um sistema de saúde que tem como base a Atenção Primária e que o centro do sistema é a Atenção Primária funciona melhor. Isso não quer dizer que não precise de outros, precisa sim, mas é a própria APS que coordena. Existem vários exemplos, sobretudo na Europa, que mostra que tem melhorias na eficiência, na eficácia e na efetividade do sistema. A própria APS pode funcionar, pode jogar seu papel fundamental. Muitos sistemas de saúde no mundo não deixam que a APS jogue esse papel e, por isso, acho que tem muitas opiniões sobre a validade da APS que vem mais deuma falta de experiência com uma boa APS do que uma crítica de um conceito em si.
Qual a importância que você vê nas metodologias de avaliação nos serviços de sistemas de saúde?
Cada vez que tem um sistema complexo como a organização de um município, como a organização de uma rede eficiente de saúde, não existe uma pessoa ou um grupo de pessoas que possa dar conta de tudo o que acontece. Precisa de informação, precisa de dados, dados concretos para saber onde está e para onde quer ir. Qual é a brecha entre as duas coisas? Isso é a chave da gestão. E também é a chave da ciência que, na minha opinião, esse processo de monitoramento, gestão, avaliação.Isso é uma ciência. É uma ciência porque de fato tem teorias, tem que ser testado, tem que coletar dados, tem experimentos e várias outras abordagens que vem da própria ciência. Por isso que ter mecanismos e ferramentas válidas é fundamental. Não se faria astronomia sem as ferramentas apropriadas. E como chegamos lá? É uma história de um cenário de anos de desenvolvimento das ferramentas apropriadas, as técnicas, as ciências, as medidas e tudo isso. E estamos chegando aí com a área de saúde. Claro que tem uma parte médica que tem um pouco mais tempo de desenvolvimento, mas a parte da avaliação a parte da gestão é uma ciência muito nova. Acho que por agora fazemos o melhor possível com o que já temos. Acho que ferramentas como o PCATool é um avanço porque de um lado foram validados e respondem não a opinião das pessoas, mas refletem numa avaliação da experiência das pessoas que trabalham no sistema e também a dos usuários dos serviços foram validados. Eu também achei em vários países (estava no Uruguai no mês passado) e achamos que as pessoas do parlamento, os médicos, o pessoal da escola de medicina, os alunos e todos entenderam intuitivamente o que queria dizer as medidas do PCATool e essa parte da ciência é validada com um entendimento intuitivo. Eu acho que é a magia que vem desse tipo de ferramenta.
Com a criação da rede de pesquisa criou-se um canal de comunicação e articulação entre os pesquisadores, profissionais e usuários. Na sua opinião qual será a maior contribuição para seus participantes?
Eu acho que é partindo de experiências. O que é mais importante? É claro que tem algumas questões macros como financiamento, avaliação de políticas públicas que são fundamentais, mas, de fato, tem menos dessas questões que questões cotidianas, do dia a dia. Como melhorar a prática, como enfrentar vários problemas operacionais. Então, essa continuidade de aprendizagem, essa continuidade de práticas é fundamental para isso. Dentro da REDE, eu imagino que os cadastrados vão valorizar muito esse conhecimento. Mas acho que precisa de um jeito de sistematizar um pouco, de como compartilhar essas experiências. Acho que já existem algumas outras comunidades de práticas que já sistematizaram um mecanismo de compartilhar experiências. Ao invés de só fazer uma conta às vezes precisa de uma coisa mais sistemática. Eu acho importante que essa REDE tenta ir além da REDE. Já foi dito várias vezes durante esses dias que já somos os crentes... Já cremos nesse sistema. Isso é importante, convencer os outros. Como convencê-los? Exatamente com essas experiências. As experiências pessoais falam muito mais que qualquer pesquisa com quaisquer números. O que eu aprendi falando com pessoas que tentam influenciar o sistema é que o que eles querem é uma estória de alguém, uma coisa bem específica de como a APS funcionou, como resolveu um problema, como a experiência de alguém na equipe de saúde família, por exemplo, como foi essa experiência positiva. Eu preciso de uma articulação entre os pesquisadores na REDE e a cultivação de contatos na mídia, com as pessoa s que fazem reportagens para revistas de saúde tampouco, com aqueles que trabalham com os grandes empresários como O Globo e etc. Quantos dessa lista o pessoal da REDE conhece pessoalmente? Quantas vezes eles sentam com eles e compartilham essas experiências? Já sabemos que é muito fácil, pois se alguém tem uma experiência ruim já está na primeira página. Tem essa pesquisa do Romero que apresentou ontem que a APS melhorou o problema de desemprego em alguns lugares enquanto, no meu país, isso seria primeira página. Então, tem um desconect entre o que acontece, o saber e o conhecimento que essa REDE tem e a comunicação dela. Não quero dizer que eles não se comunicam, comunicam muito bem, mas tem outro passo que é tentar garantir que esses resultados fiquem lá na primeira página e isso, provavelmente, precise de uma estrat&eac ute;gia de comunicação de largo prazo, de criação de relações com os jornalistas, os periódicos, os jornais pra cambiar um pouco como é mostrado o SUS e, sobretudo, a APS.
Você teria alguma dica, alguma idéia ou diferencial que caracterize algum pensamento seu sobre a Atenção Primaria em Saúde que você gostaria de mencionar aos que estão se dedicando a essa área?
Como disse, e digo muitas vezes, que a APS é uma área que é instigante, que merece ser melhor estudado e é uma área legítima de estudo. Em muitos países tem pessoas que se especializam em investigação em serviços de saúde. Acho que aqui no Brasil é uma coisa mais nova. Não tem, até eu saber, um doutorado, por exemplo, em investigação em serviços de saúde, mas em outros sistemas, em outros países, tem. Isso pra mim, de fato, é uma área legítima. É uma área que dá muito prazer, satisfação e é um vínculo entre a parte teórica e, eu diria a parte quantitativa e qualitativa porque você tem que traduzir todos os resultados em exemplos que as pessoas possam entender. Então, para qualquer pessoa que queira trabalhar nessa á rea como prestador de serviços, enfermeiro, médico ou agente comunitário de saúde primeiro tem que saber as pessoas que valorizam o trabalho que faz, mas para pessoas que querem estudar isso, eles têm que também saber que existe todo um mundo e que eles vão fazer parte dessa outra comunidade que vai além do Brasil que engloba e que, de fato, faz uma comunidade mundial.
Original da REDE APS, sugestão do nosso colaborador e colega Leonardo Ferreira Fontenelle, confira seu blog http://leonardof.med.br
Publicado em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com/
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Fwd: Rede entrevista James Macinko
James Macinko
BIO (por Rede APS): James Macinko é um investigador dos serviços de saúde com foco na atenção primária à saúde. Desde 2003 ele trabalha como professor-assistente de saúde pública na Universidade de Nova York. Sua pesquisa se concentra na avaliação do impacto das reformas e mudanças na política de saúde, desenvolvendo instrumentos para avaliar o desempenho dos cuidados primários, e explorar o vasto papel dos sistemas de saúde e serviços na produção e potencial redução das disparidades globais de saúde. Sua experiência de campo inclui a avaliação dos programas de atenção primária à saúde e políticas na América Latina e no Caribe; avaliação dos programas de desenvolvimento da microempresa na África e na América Latina, a assistência da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional e da Organização Mundial da Saúde para desenvolver indicadores para avaliar a prevenção de doenças infecciosas e programas de controle na África Subsaariana, a monitorização das eleições de coordenação na Etiópia, e trabalhando com as comunidades latinas, em Washington DC, Filadélfia e Nova York, para identificar e eliminar as barreiras aos cuidados de saúde primários.
BIO (por Rede APS): James Macinko é um investigador dos serviços de saúde com foco na atenção primária à saúde. Desde 2003 ele trabalha como professor-assistente de saúde pública na Universidade de Nova York. Sua pesquisa se concentra na avaliação do impacto das reformas e mudanças na política de saúde, desenvolvendo instrumentos para avaliar o desempenho dos cuidados primários, e explorar o vasto papel dos sistemas de saúde e serviços na produção e potencial redução das disparidades globais de saúde. Sua experiência de campo inclui a avaliação dos programas de atenção primária à saúde e políticas na América Latina e no Caribe; avaliação dos programas de desenvolvimento da microempresa na África e na América Latina, a assistência da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional e da Organização Mundial da Saúde para desenvolver indicadores para avaliar a prevenção de doenças infecciosas e programas de controle na África Subsaariana, a monitorização das eleições de coordenação na Etiópia, e trabalhando com as comunidades latinas, em Washington DC, Filadélfia e Nova York, para identificar e eliminar as barreiras aos cuidados de saúde primários.
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FONTE: Rede APS <contato@rededepesquisaaps.org.br>
Data: 12 de janeiro de 2011 16:12
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Edital concurso público UFBA (Medicina, ISC e Psicologia)
Edital concurso público UFBA (Medicina, ISC e Psicologia)
Público alvo: colegas médicos, epidemiologistas e psicólogos!
Edital lançado pela UFBA (06/2010). Vagas para Docentes Saúde da Família na Faculdade de Medicina, Epidemiologia no Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e Psicologia.
Importante: verifiquem as retificações
Créditos: Raphael Augusto Teixeira de Aguiar
Data: 10 de janeiro de 2011 10:37
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