terça-feira, 22 de outubro de 2019

Mais uma sobre Estatinas: aumenta risco osteoporose?

O que já se sabe

Estatinas são muito questionadas enquanto estratégias de prevenção primária de eventos cardiovasculares. Disturbios da concentração plasmática dos lípides são exames alterados, assintomáticos, e por isto mesmo, não são doenças, mas fatores de risco, e recaem nos preceitos da prevenção quaternária.

No caso da osteoporose, aparentemente,  a inibição da HMG-CoA-redutase, mecanismo de ação das estatinas, pode influenciar na patogênese da osteoporose, entendendo que a  relação entre a síntese do colesterol e os hormônios sexuais possam resultar em aumento do risco das doenças da estrutura e qualidade óssea.

O que este estudo traz
Leonardo Fontenelle, do Blog, comentou no Grupo de Discussões da SBMFC:

Aparentemente, o uso de estatinas está associado ao diagnóstico de osteoporose.
Não encontrei qualquer tentativa de controlar para o que me parece ser o confundidor mais óbvio: falta de prevenção quaternária.Para qualquer risco cardiovascular e qualquer risco de fraturas patológicas, alguns pacientes e alguns médicos são mais propensos a prescrever estatina e/ou solicitar densitometria do que outros, e eu não me surpreenderia se as características caminhassem de mãos dadas.
Por outro lado, há um gradiente de dose-efeito, e (entre as pessoas com 40 anos) a associação é razoavelmente forte.
Além disso, não foi só a osteoporose que se mostrou associada às estatinas; o risco de fraturas também aumento com a dose das estatinas. Ao contrário do que eu esperaria, parece que a idade dos participantes da pesquisa é bem semelhantes entre as doses de estatinas, o que afastaria isso como um confundidor.
Em resumo, por enquanto quem quiser falar mal de estatinas vai ter mais uma desculpa; e a gente fica na torcida para sair um estudo de coorte, mesmo que retrospectivo
.
Por Leonardo Ferreira Fontenelle  - ORCID iD: 0000-0003-4064-433X, Twitter:@doutorleonardo.

Leia o Abstract traduzido:

Objetivo: Se a inibição da HMG-CoA-redutase, o principal mecanismo das estatinas, desempenha um papel na patogênese da osteoporose, ainda não é totalmente conhecido. Consequentemente, este estudo foi proposto para investigar a relação de diferentes tipos e dosagens de estatinas com osteoporose, hipótese de que a inibição da síntese do colesterol possa influenciar os hormônios sexuais e, portanto, o diagnóstico de osteoporose. Métodos: Foram requisitados dados médicos de todos os austríacos de 2006 a 2007 e usados ​​para identificar todos os pacientes tratados com estatinas para calcular suas médias diárias de dose para seis tipos diferentes de estatinas. Aplicada regressão logística múltipla para analisar os riscos dependentes da dose de serem diagnosticados com osteoporose para cada estatina individualmente
Resultados: Na população geral do estudo, o tratamento com estatina foi associado a uma presença elevada da osteoporose diagnosticada em comparação com os controles (OR: 3,62, IC 95% 3,55 a 3,69, p < 0,01). Houve uma dependência altamente não trivial da dose de estatina com os ORs da osteoporose. A osteoporose foi menos presente no tratamento com doses baixas de estatina (0-10 mg por dia), incluindo lovastatina (OR: 0,39, IC 0,18 a 0,84, p < 0,05), pravastatina (OR: 0,68, IC 95% 0,52 a 0,89, p < 0,01), sinvastatina (OR: 0,70, IC 95% 0,56 a 0,86, p < 0,01) e rosuvastatina (OR: 0,69, IC 95% 0,55 a 0,87, p < 0,01). No entanto, o excedente do limiar de 40 mg para sinvastatina (OR: 1,64, IC 95% 1,31 a 2,07, p < 0,01) e o excedente do limiar de 20 mg para atorvastatina (OR: 1,78, IC 95% 1,41 a 2,23, p < 0,01) e para a rosuvastatina (OR: 2,04, IC 95% 1,31 a 3,18, p < 0,01) foi relacionada a uma super-representação da osteoporose.  
Conclusão: Os resultados mostram que o diagnóstico de osteoporose em pacientes tratados com estatina é dependente da dose. Assim, a osteoporose é menos presente em doses baixas e mais presente no tratamento com doses elevadas de estatina, demonstrando a importância de estudos futuros que levem em consideração a dependência da dose ao investigar a relação entre estatinas e osteoporose.

Acesse o artigo:

O estudo está disponível em livre acesso em:





Publicado originalmente em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

sábado, 12 de outubro de 2019

25% do gasto em Saúde é desperdício... nos EEUU.

Aproximadamente um a cada quatro dólares, dos U$3,8 trilhões gastos em saúde nos EUA a cada ano é desperdiçado, de acordo com um estudo da JAMA.

Entenda

No mundo todo, liberais e estatistas discutem acerca de falta de recursos versus desperdício de recursos em sistemas de saúde. Os Estados Unidos, apesar de não serem o melhor exemplo de liberalismo, apresentam um sistema pouco baseado em serviços públicos e, portanto, teoricamente deveria lidar melhor como desperdício.

Além disso, gastam mais em assistência médica do que qualquer outro país, com custos aproximando-se de 18% do produto interno bruto (PIB). Estudos anteriores estimaram que aproximadamente 30% dos gastos com saúde podem ser considerados dispensáveis.

Apesar dos esforços para reduzir o tratamento excessivo, melhorar os cuidados e abordar o pagamento em excesso, é provável que permaneça um desperdício substancial nos gastos com saúde nos EUA.

Este estudo teve como objetivo estimar os níveis atuais de gastos no sistema de saúde dos EUA em 6 domínios desenvolvidos anteriormente e reportar estimativas de economia potencial para cada domínio.

O que este estudo acrescenta

Em sete anos de acompanhamento foi estimada a quantidade de desperdício no sistema e a quantidade de economia possível com a implementação de estratégias públicas de economia. Os resíduos totalizavam mais de U$ 800 bilhões anualmente, um quarto dos quais poderia ser economizado através, por exemplo, de melhores estratégias de precificação de medicamentos ou enfatizando high value care (cuidados de alto valor).

As três principais áreas de resíduos foram, em ordem, a complexidade administrativa (para a qual os autores não encontraram estudos publicados sobre estratégias de economia de custos), o preço excessivo de fabricantes de medicamentos e hospitais e a falta de coordenação dos cuidados.



Acesse o artigo em:


Saiba mais:

Há três editoriais nessa edição do JAMA sobre o tema. Um deles afirma que o "desperdício" de uma pessoa é a "renda" de outra. O autor, Dr. Don Berwick, vê a solução para o desperdício como política, concluindo que "exigirá despertar um status quo sonolento e mudar o poder de desvencilhar o sistema das garras da ganância".

Publicado originalmente em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com