sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Associação de claritromicina a bloqueador de canal de cálcio pode ser fatal

Um grupo de canadenses publicou no JAMA uma coorte retrospectiva de base populacional (restrita a idosos) analisando a importância da interação medicamentosa entre a claritromicina e os bloqueadores de canal de cálcio.

Os bloqueadores de canal de cálcio são metabolizados por uma fração do citocromo p450 que é inibida pela claritromicina, mas não é inibida pela azitromicina, que é outro macrolídio.

Em comparação aos idosos que receberam prescrição de azitromicina enquanto usavam bloqueador de canal de cálcio, os idosos que receberam prescrição de claritromicina enquanto usavam bloqueador de canal de cálcio tiveram maior risco de serem internados por lesão renal aguda, de serem internados por hipotensão arterial, e de morrem.

O efeito foi maior para os bloqueadores de canal de cálcio di-hidropiridínicos, como o nifedipino e o anlodipino. Este último, aliás, foi o bloqueador de canal de cálcio mais utilizado pelas pessoas incluídas no estudo.

Os autores calcularam não apenas a razão de risco ("risco relativo"), mas também o aumento absoluto de risco, do qual se pode derivar o NNH. Pelo que o estudo indica, prescrever claritromicina para idosos que usam bloqueadores de canal de cálcio parece causar a morte de uma pessoa a cada 230 prescrições, levando em consideração que existem alternativas de antibiótico.

Gandhi S, Fleet JL, Bailey DG, et al. Calcium-channel blocker–clarithromycin drug interactions and acute kidney injury. JAMA. 2013;310(23):2544–53. DOI: 10.1001/jama.2013.282426


Publicado originalmente por Leonardo Ferreira Fontenelle em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

domingo, 22 de dezembro de 2013

Residência em MFC com Medicina Rural realmente fixa Médicos no Interior

One program, multiple training sites: does site of family medicine training influence professional practice location?

Jamieson JL, Kernahan J, Calam B, Sivertz KS. One program, multiple training sites: does site of family medicine training influence professional practice location? Rural and Remote Health 13: 2496. (Online) 2013. 

Artigo da Rural and Remote Health de 2013 aponta que a Residência em Medicina de Família e Comunidade, quando realizada em locais rurais ou de maneira "distribuída" (ou seja, com parte do período em localidades rurais ou centros regionais menores) aumenta em 15 vezes a probabilidade de retenção de médicos em regiões rurais. 

Em um tempo de programas de provimento de profissionais para locais de difícil fixação, como o "Provab" e o "Mais Médicos", os sanitaristas que hoje participam da gestão deveriam incentivar a Residência Médica - em especial em áreas básicas como a Medicina de Família e Comunidade - com ao menos uma parte de sua formação em localidades rurais para incentivar não o provimento temporário, mas a fixação de tais profissionais. 

Há algum tempo a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade vem batendo na tecla do incentivo às residências em MFC (note-se: seguindo os preceitos da Organização Mundial de Médicos de Família e da CNRM e não um pseudo-projeto de um ano de residência geral/ familiar/ comunitária que simula um serviço civil obrigatório, inventado no Congresso Nacional por ex-sanitarista), porém há pelo menos 3 anos o incentivo a ampliação de vagas foi deixado em segundo plano. 



Leia o Resumo traduzido:

Introdução: Várias estratégias têm sido sugeridas para aumentar o recrutamento de médicos de família para as comunidades rurais e centros regionais menores. Uma abordagem tem sido a implementação de programas de educação de pós-graduação "distribuídos" onde os formandos passam um tempo substancial em tais comunidades. O objetivo do presente estudo foi comparar a localização prática eventual de médicos de família que se comprometeram em sua formação de pós-graduação através de uma única universidade, mas que foram baseados em comunidades ou metropolitanas ou "distribuídas" não- metropolitanas. 

Métodos: A partir de 1998, o Departamento de Medicina de Família na Universidade de British Columbia, no Canadá realizou uma pesquisa anual de seus Residentes com 2 , 5 e 10 anos após a conclusão do programa. Os autores receberam aprovação do Conselho de Ética para usar esses dados anônimos para identificar os fatores pessoais e educacionais que predizem localização prática futura. 

Resultados: A taxa de resposta global foi de 45% . Aos 2 anos (N = 222) , os Residentes treinados em locais "distribuídos" tiveram 15 vezes mais chances de atuar nas comunidades rurais, em pequenas cidades e centros regionais do que aqueles que treinaram em centros de ensino metropolitanos. Este foi ainda mais preditivo para a retenção em regiões de prática não-urbana. Entre o subgrupo dos médicos que permaneceram em um único local de prática por mais de um ano, antes da pesquisa, aqueles que foram treinados em regiões menores eram 36 vezes mais propensos a escolher uma configuração de prática rural ou regional. Embora a grande maioria dos treinados em regiões metropolitanas tenham escolhido um local prática urbana, um subgrupo de pessoas com alguma educação rural foram mais propensos a praticar em áreas rurais ou regionais. Estagiários de locais "distribuídos" consideravam-se mais preparados para a prática, independentemente da localização final de sua atuação. 

Conclusões: A participação em um local de treinamento de pós-graduação de medicina de família "distribuído" é um importante preditor de um local de atuação não- urbana. Este efeito persiste por 10 anos após a conclusão da residência e é independente de outros preditores de práticas não- urbana , incluindo gênero, educação rural, e formação de graduação rural. A hipótese é que este se deve não só a um currículo que suporta a preparação para este tipo de prática, mas também oportunidades para desenvolver raízes pessoais e profissionais nestas comunidades .

Leia o Abstract original:


Introduction:  Numerous strategies have been suggested to increase recruitment of family physicians to rural communities and smaller regional centers. One approach has been to implement distributed postgraduate education programs where trainees spend substantial time in such communities. The purpose of the current study was to compare the eventual practice location of family physicians who undertook their postgraduate training through a single university but who were based in either metropolitan or distributed, non-metropolitan communities.
Methods:  Since 1998, the Department of Family Practice at the University of British Columbia in Canada has conducted an annual survey of its residents at 2, 5, and 10 years after completion of training. The authors received Ethics Board approval to use this anonymized data to identify personal and educational factors that predict future practice location.
Results:  The overall response rate was 45%. At 2 years (N=222), residents trained in distributed sites were 15 times more likely to enter practice in rural communities, small towns and regional centers than those who trained in metropolitan teaching centers. This was even more predictive for retention in non-urban practice sites. Among the subgroup of physicians who remained in a single practice location for more than a year preceding the survey, those who trained in smaller sites were 36 times more likely to choose a rural or regional practice setting. While the vast majority of those trained in metropolitan sites chose an urban practice location, a subgroup of those with some rural upbringing were more likely to practice in rural or regional settings. Trainees from distributed sites considered themselves more prepared for practice regardless of ultimate practice location.
Conclusions:  Participation in a distributed postgraduate family medicine training site is an important predictor of a non-urban practice location. This effect persists for 10 years after completion of training and is independent of other predictors of non-urban practice including gender, rural upbringing, and rural undergraduate training. It is hypothesized that this is due not only to a curriculum that supports preparedness for this type of practice but also to opportunities to develop personal and professional roots in these communities.

Key words: Canada, distributed training, family medicine, postgraduate medical education, professional practice location.

O artigo está disponível em:

Publicado originalmente por Leonardo Savassi em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Serviços com Alto Escore à APS previnem complicações do diabetes.

A qualidade da atenção primária e o manejo do diabetes mellitus


O artigo segue a linha de avaliação da APS de Porto Alegre pelo PCA-Tool, desta vez avaliando os aspectos relacionados a Diabetes. Embora a diferença do controle glicêmico não tenha sido significativa entre os dois grupos (desfecho intermediário), os desfechos relevantes foram: aqueles serviços que foram classificados como de "Alto Escore à APS" demonstraram maior atenção à prevenção das complicações do diabetes e melhor cuidado aos pacientes com doença de maior complexidade.

1) Leia o resumo: 

Resumo:
Objetivos: Investigar a associação entre qualidade da atenção primária à saúde (APS) e manejo do diabetes mellitus (DM) nos adultos portadores de DM adscritos aos serviços de APS em Porto Alegre, Brasil.
Métodos: Estudo transversal de base populacional, com adultos portadores de DM. A qualidade da APS foi aferida pelo Primary Care Assesment Tool (PCATool-Brasil). A análise estatística foi realizada por regressão de Poisson com variação robusta.
Resultados: Dos 3.014 entrevistados, 205 (6,8%) eram portadores de DM, com predomínio do sexo feminino (64,4%) e cor branca (68,3%). Os portadores de diabetes classificados como de Alto Escore apresentavam prevalência maior, tanto no tempo de doença (10,9 vs 8,4 anos, p=0,03) quanto em complicações do diabetes (73,9% vs 58,8%, p=0,02). A proporção de entrevistados com ótimo controle glicêmico não diferenciou entre os grupos (31,7% vs 38%, p=0,3). Na análise multivariável, serviços com Alto Escore à APS apresentaram melhor perfil de cuidados para a prevenção das principais comorbidades. Os manejos que diferiram estatisticamente foram a aferição da pressão arterial (RP=1,07; IC95% 1,01-1,14); solicitação de perfil lipídico (RP=1,23; IC95% 1,09-1,39); orientação de atividade física (RP=1,50; IC95% 1,21-1,86); exame dos pés (RP=2,08; IC95% 1,54-2,81); e orientações de cuidados com os pés (RP=2,02; IC95% 1,56-2,61).
Conclusão: Serviços com Alto Escore à APS demonstraram maior atenção à prevenção das complicações do diabetes e melhor cuidado aos pacientes com doença de maior complexidade, mas não diferiram significativamente dos demais serviços no controle glicêmico.

2) Acesse o artigo em:




Publicado originalmente em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com por Leonardo C M Savassi

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Beta bloqueadores para IAM em pessoas com DPOC!!!

Effect of β blockers on mortality after myocardial infarction in adults with COPD: population based cohort study of UK electronic healthcare records

O uso de betabloqueadores, por vezes limitada em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica por causa da preocupação com indução de broncoespasmo, pode na verdade oferecer vantagem adicional de sobrevivência após infarto do miocárdio em tais pacientes, segundo um estudo publicado no BMJ.

Os pesquisadores usaram dados nacionais do Reino Unido para examinar os resultados em 1063 pacientes com DPOC que foram hospitalizados depois de sofrer um primeiro Infarto.

Nos pacientes aos quais foram prescritos beta-bloqueadores durante a internação, demostrou-se uma taxa de risco de mortalidade de 0,50 em relação àqueles não prescritos eles. Pacientes já em drogas antes do MI também mostrou uma significativa vantagem de sobrevivência (RR= 0,59).

Os autores observam que a apenas cerca de um terço dos pacientes foram prescritos beta-bloqueadores durante sua hospitalização, acrescentando que o uso das drogas em os EUA tem aumentado nos últimos anos, sendo agora superior a 90% desses pacientes.

Acesse o artigo em livre acesso em:




Publicado por Leonardo Savassi originalmente em
http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Desempenho das unidades básicas de Saúde da Família na promoção do aleitamento materno exclusivo

O último número do Jornal de Pediatria, da SBP, trouxe um artigo muito interessante sobre o efeito da Dez Passos da Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação sobre a prevalência de aleitamento materno exclusivo.

Não se trata de um estudo de intervenção, e sim de observação. A Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro implementou a iniciativa, e os investigadores confirmaram que, quanto melhor implementada a iniciativa, mais prevalente o aleitamento.

É bom observar que, para variar, as unidades básicas de saúde (UBS) da estratégia Saúde da Família (ESF) tiveram um desempenho um pouco pior do que o resto da atenção primária à saúde.

Mas os autores do artigo não parecem muito convencidos da inferioridade da ESF:

Em 2009, a estratégia de saúde da família estava em período inicial de estruturação física e dos processos de trabalho na cidade do Rio de Janeiro, cobrindo apenas 3,5% da população, a pior cobertura entre as capitais do país. Já em 2012, esta estratégia passou a alcançar 35% da população carioca, cerca de 2,2 milhões de pessoas, com investimento maciço na capacitação de suas equipes na IUBAAM.8 A conjuntura da época pode ser um dos fatores que levou a assistência em unidade básica a gerar uma prevalência de AME superior em 10,4% à encontrada nas unidades de saúde da família.

Realmente, a ESF sofreu uma grande expansão e requalificação no município do Rio de Janeiro desde 2009.

Além disso, os investigadores entrevistaram apenas mães que efetivamente estavam em seguimento no serviço. Será que as mães que abandonaram o seguimento têm a mesma prevalência de amamentação?

Mas isso é um detalhe. O objetivo principal do estudo não era comparar UBS tradicionais com as da ESF. No geral, é um estudo bem rigoroso, que chegou inclusive a publicar seu modelo teórico, raridade até mesmo entre os estudos que chegam a ter um. Eu gostaria que metade dos estudos brasileiros tivessem esse nível.

O artigo está integralmente disponível online, em português e inglês:

Rito RVVF, Oliveira MIC, Brito AS. Grau de cumprimento dos Dez Passos da Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação e sua associação com a prevalência de aleitamento materno exclusivo. J Ped (Rio J). 2013; 89(5): 477–84. DOI: 10.1016/j.jped.2013.02.018.

Publicado originalmente por Leonardo Ferreira Fontenelle em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

sábado, 28 de setembro de 2013

Associação Capixaba tem novo endereço na Internet

Esta é uma nota curta para divulgar que a Associação Capixaba de Medicina de Família e Comunidade (ACMFC) tem um endereço virtual: http://acfmccapixaba.wordpress.com/.

A nova plataforma vai permitir aos leitores acompanhar as novidades da ACMFC, inclusive por e-mail.

Publicado originalmente em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

2o Congresso Brasileiro de Atenção Domiciliar


É com muito entusiasmo que convidamos vocês a participarem da segunda edição do Congresso Brasileiro de Atenção Domiciliar (COBRAD), de 27 a 30 de setembro De 2013.

O 2º COBRAD ocorrerá no Centro de Convenções UNICAMP, sendo organizado com a colaboração dos trabalhadores da AD - Atenção Domiciliar, os associados da ABRASAD-Associação dos Serviços de Atenção Domiciliar, representantes de várias áreas de atuação, comunidade científica e a equipe da coordenação do Programa Melhor em Casa do Ministério da Saúde.

O objetivo é discutir temas relacionados à gestão e a AD, levando-se em consideração os serviços públicos com toda a sua abrangência e com enfoque nas redes assistenciais, na complexidade destes pacientes atendidos no domicílio; bem como troca de experiências entre os Municípios que executam a AD, ressaltando a importância da Portaria Ministerial Nº 963, de 27 de maio de 2013 que redefine a AD no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Esperamos vocês com muita alegria e disposição para aproveitarem ao máximo este congresso, seja no aperfeiçoamento intelectual, cultural, no encontro de velhos amigos, de parceiros, gestores e profissionais, em um verdadeiro intercâmbio de aprendizado e relações interpessoais.

Venha participar com a gente e compartilhar sua experiência Confira a programação no site e faça logo sua inscrição, pois as vagas são limitadas.

Comissão Organizadora.


PROGRAMAÇÃOINSCREVA-SE



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

AMAQ e PCATool: divergências importantes

Por Leonardo Savassi

A avaliação da Qualidade em Serviços de Atenção Primária padece da falta de sistematização, em especial da aplicação para fins de monitoramento, e do uso pouco perene de instrumentos de avaliação. Em recente artigo publicado na RBMFC, avaliou-se a evolução dos instrumentos de avaliação da Qualidade em APS, desde a Sala de Situação até o AMAQ. Como conclusões, que vários instrumentos de avaliação da qualidade já foram implantados no âmbito da Atenção Primária no subsistema público de saúde, mas seu seguimento foi interrompido.

Em artigo publicado na Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, avaliou-se a concordância, entre o recém-implantado AMAQ (Avaliação para Melhoria da Qualidade da Estratégia Saúde da Família) - utilizado no PMAQ-AB (Programa para a para Melhoria da Qualidade na Atenção Básica, lançado em 2011) e o PCATool (Primary Care Assessment Tool), instrumento validado em 2010 sob patrocínio do Ministério da Saúde. O PCA-Tool tem a vantagem de ter componentes específicos para ciclos de vida e de permitir a comparação das equipes de Atenção Primária brasileiras com equipes de todo o mundo.

Os autores concluíram que há baixa concordância entre os escores obtidos pela AMQ e pelo PCATool, apesar de ambos enfocarem aspectos avaliativos relacionados a estrutura e processo dos serviços de saúde. Embora não objetive avaliar sua adequação e sim a existência de concordância entre os escores obtidos, o estudo aponta uma possível inadequação para avaliação da Atenção Primária, tendo em vista o "padrão-ouro" da avaliação do PCATool.

Tendo em vista que a concordância entre os instrumentos AMQ e PCATool foi elevada somente para os atributos "integralidade", "orientação familiar" e derivado, e foi baixa para os demais, os achados deste estudo sugerem não ser possível a utilização os padrões do AMQ como forma de mensurar todos os atributos da APS definidos por Starfield, diferentemente do PCATool.

Algumas críticas também são feitas à metodologia do AMAQ: "A comparação entre os valores dos atributos em cada instrumento evidencia escores mais altos para a AMQ (...) parte dos padrões de análise da AMQ serem baseados em aspectos normativos da Política Nacional da Atenção Básica, que condicionam o financiamento e o processo de trabalho dos profissionais e gestores do sistema de saúde".

Ainda segundo os autores, "mesmo com os cuidados metodológicos utilizados na AMQ, como a livre adesão pelos gestores e a ausência de incentivos e sanções relacionadas aos resultados, pode haver uma superestimação dos escores, especialmente quando se trata de padrões de respostas dicotômicos, nos quais a avaliação negativa do padrão traria a percepção de ineficiência total da equipe para implementar mudanças em seu território."


Leia o Resumo:
Objetivo: analisar o grau de concordância entre o Primary Care Assessment Tool (PCATool) e a Avaliação para Melhoria da Qualidade da Estratégia Saúde da Família (AMQ), elaborada pelo Ministério da Saúde.
Métodos: definiram-se escores a partir de dados secundários resultantes da aplicação, em 2008, dos referidos instrumentos no município de Curitiba, Paraná, Brasil, sendo utilizado o método de Bland-Altman para análise de concordância. 
 Resultados: houve concordância (p>0,05) para os atributos ‘integralidade’ (p=0,190) e ‘orientação familiar’ (p=0,084), o que não ocorreu em relação ao ‘acesso do primeiro contato do indivíduo com o sistema de saúde’ (p< 0,001), ‘longitudinalidade’ (p< 0,001), ‘coordenação do cuidado’ (p< 0,001) e ‘orientação comunitária’ (p< 0,001), sugerindo não existir equivalência entre os instrumentos. 
Conclusão: os resultados não permitem definir uma metodologia de avaliação dos atributos da Atenção Primária à Saúde (APS) mediante a AMQ; recomendam-se estudos visando aferir associação entre melhor avaliação da APS pela AMQ e resultados em saúde. 
FIGUEIREDO, Alexandre Medeiros de et al. Análise de concordância entre instrumentos de avaliação da Atenção Primária à Saúde na cidade de Curitiba, Paraná, em 2008. Epidemiol. Serv. Saúde [online]. 2013, vol.22, n.1, pp. 41-48. ISSN 1679-4974.

O artigo original está disponível (livre acesso) em:



O artigo de opinião na RBMFC (livre acesso) está em:



Publicado originalmente por Leonardo C M Savassi em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Como manter-se atualizado com evidências relevantes para o seu dia-a-dia

Todo o mundo sabe hoje em dia que a medicina baseada em evidência significa utilizar a melhor evidência científica disponível para tomar as decisões mais acertadas sobre cada caso individual. Mas como dispor das evidências na hora em que elas são necessárias?

Um bom passo nessa direção é o portal Saúde Baseada em Evidências, onde profissionais de saúde podem consultar bases de dados como o BestPractice. Cada uma dessas bases de dados são coletâneas de monografias, muito úteis para consulta rápida no meio do atendimento, tanto na atenção primária à saúde quanto em outros contextos.

Naturalmente, o portal Saúde Baseada em Evidências só é útil para quem tem acesso à Internet no local de trabalho. Além disso, não dá tempo para ficar consultando o portal em todos os atendimentos. A atualização deve acontecer em outro horário.

Livros, manuais e consensos são importantes, mas o ideal é não depender exclusivamente deles, porque ficam desatualizados muito rapidamente. Pior ainda, depois que estudamos de forma abrangente um assunto, dificilmente vamos querer ler um capítulo ou livro que repita muito do que já sabemos.

Em um artigo publicado nos Blogs do BMJ, Paul Glasziou recomenda três formas bem práticas para que os médicos se mantenham atualizados:
  1. Um diário de perguntas clínicas. Esse diário precisa estar junto ao médico durante o seu trabalho. Quando uma dúvida aparece, ela deve ser anotada na hora, para ser sanada assim que o médico tiver tempo de estudar. É como na "prescrição de estudo de medicina baseada em evidências", descrita por Sackett e colaboradores na década de 1990, só que dessa vez sem a necessidade de um professor para mandar estudar.
  2. Um serviço de alerta de pesquisas baseadas em evidência. Acredite ou não, existe gente que varre as novidades da literatura científica mundial em busca de artigos que sejam interessantes para pessoas com o mesmo perfil que você. Em um artigo pregresso, Paul Glasziou tinha recomendado tanto o ACCESSSS, da Universidade McMaster, quanto o PubMed Health, do National Institute of Health (EUA). De forma complementar, gosto também de acompanhar os comentários semanais do médico de família e comunidade britânico Richard Lehman sobre os artigos publicados nos periódicos médicos de maior gabarito. Os artigos mais relevantes também chegam a mim pelo ACCESSSS, mas os comentários de Richard Lehman são impagáveis!
  3. Discussões de evidência em equipe. Enquanto os clubes de revista são guiados pelo sumário de uma lista de periódicos (como também são os comentários de Richard Lehman), essas discussões em equipe são guiadas pelos diários de perguntas clínicas. Nessas discussões podem ser tomadas decisões sobre como os profissionais agirão dali em diante, seja na forma de uma mudança imediata na conduta clínica, seja por exemplo na forma de se providenciar um treinamento. Em suma, são grupos de educação permanente.
Para continuar atualizado, é necessário tempo para estudar. Espero que essas dicas façam com que você aproveite melhor as suas horas de estudo!


Publicado originalmente por Leonardo Ferreira Fontenelle em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Corticóides para exacerbações da DPOC: tratamento de 5 dias é suficiente

Short-term vs Conventional Glucocorticoid Therapy in Acute Exacerbations of Chronic Obstructive Pulmonary Disease The REDUCE Randomized Clinical Trial 


 Um curso de 5 dias de glucocorticóides é suficiente para tratar as exacerbações agudas de DPOC, de acordo com um ensaio controlado com placebo publicado no JAMA. Atualmente, a maioria das diretrizes recomendam o tratamento de 10 a 14 dias.

Cerca de 300 pacientes que acessaram serviços de emergência da Suíça com exacerbações da DPOC foram randomizados para receber glicocorticóides sistêmicos durante 5 ou 14 dias. Os pacientes também receberam os antibióticos e outros medicamentos padrão para DPOC  (glucocorticóides adicionais foram dadas conforme necessário durante o estudo). Durante 6 meses de follow-up, as taxas de re-exacerbação não diferiram significativamente entre os grupos. Da mesma forma, os resultados secundários, tais como a morte ea necessidade de ventilação mecânica não foi diferente. Os pacientes no grupo de 5 dias tiveram menos exposição cumulativa ao corticóide.

As implicações clínicas deste estudo são claras A maioria dos pacientes com DPOC com exacerbações agudas podem ser tratadas com um curso de 5 dias de prednisona ou equivalente. É hora de rediscutir os desfechos para os pacientes, que experimentam múltiplas exacerbações por ano e são expostos a ciclos repetidos de corticosteróides sistêmicos.

Acesse o artigo em:

Você também pode querer ler o Editorial

 Publicado originalmente por Leonardo Savassi em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

quinta-feira, 7 de março de 2013

Dificuldades na especialização em MFC... também na Índia

Um médico de família e comunidade britânico comentou recentemente sua experiência com a pós-graduação à distância na Índia. Assim como no Brasil, a grande maioria dos médicos que trabalham na atenção primária à saúde (APS) contam apenas com o que aprenderam na faculdade, de forma que sua resolutividade deixa muito a desejar.

Toda vivência traz seu aprendizado. Ele conta que o improviso era uma prática constante, como por exemplo quando foi necessário reagendar as atividades de um dia por causa de uma forma de protesto chamada bandh. Outra coisa que ele aprendeu foi a importância de que os médicos de família e comunidade sejam treinados por médicos com experiência em APS:

O ensino por especialistas [focais] é cheio de dificuldades em um curso de medicina de família e comunidades: eles até podem ser experientes em seus próprios campos, mas também podem nunca em suas carreiras ter tido qualquer exposição à medicina de família e comunidade.[...] O abismo entre o que é ensinado e o que precisa ser aprendido parece difícil de ser transposto.
Concordo em gênero, número e grau.


Este artigo foi publicado originalmente no blog Medicina de Familia, por Leonardo Ferreira Fontenelle.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Dois vídeos sobre Medicina de Família e Comunidade e Atenção Primária a Saúde

Os seguintes vídeos falam um pouco do que é ser Médico no internato de Atenção Primária da UFOP e o que é ser Médico de Família e Comunidade:


O primeiro video, abaixo, é de autoria das residentes em MFC Danielle Rodrigues e Shádia Fraxe da UEA/SEMSA Programa de Residência de Manaus/AM:


O segundo vídeo, abaixo, é uma Atividade Artística, parte do processo avaliativo da disciplina de Atenção Primária em Saúde da Universidade Federal de Ouro Preto, desenvolvido pela aluna Thaysa Lima. O objetivo desse trabalho foi expressar, através da arte, os sentimentos sobre a prática médica.  — em Ouro Prêto, Minas Gerais.

Para assistir este segundo vídeo, é necessário estar inscrito no Facebook:


Abaixo, uma dedicatória a autora do segundo vídeo:

"Internato de sonhos"

Quando achamos que vimos tudo.
Quando nos pegamos na monotonia.
Quando focamos somente no estudo.
E negligenciamos o valor da poesia.

Vem uma aluna que nos deixa mudo.
Em uma segunda-feira quase vazia.
Apresentando na sala como conteúdo.
Um vídeo composto por pura magia

Mensagem a caneta e lápis de cor
A aluna profere com traços macios.
Mensagem que trata do seu labor

Brindada com palmas e assovios
Arranca a lágrima do professor.
Thaysa, interna, recebe os elogios.

LSav, 19/02/2013


Créditos: obrigado ao Marcellus Negreiros por compartilhar o vídeo de Manaus.
obrigado à interna Thaysa  Lima por compartilhar o vídeo de própria autoria de Ouro Preto.
Publicado originalmente por Leonardo Savassi

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A Medicina de Família e Comunidade foi por anos subvalorizada...

Um vídeo (em espanhol) muito didático para entender, em seis minutos, o que é ser Médico de Família e Comunidade:


Publicado originalmente por Leonardo C M Savassi