segunda-feira, 20 de junho de 2011

Brasil: panorama das doenças cardiovasculares

16 de junho de 2011 | Shelley Wood

(Artigo original em Inglês, 10/05/11) Brasília, Brasil — De acordo com um estudo que revisou o impacto das patologias não-infecciosas no Brasil, as doenças cardiovasculares estão em declinio, provavelmente como resultado dos esforços para o controle do tabagismo e da melhoria do acesso aos cuidados primários, nessa nação sul-americana [1].
Mas, como em outros países ao redor do mundo, o aumento das taxas de obesidade, diabetes e hipertensão está ameaçando esse progresso.
Os novos números aparecem em um artigo publicado online no periódico The Lancet, em 9 maio de 2011, como parte de uma série especial que observou a saúde e cuidados de saúde no Brasil.
Segundo a Dra. Maria Inês Schmidt (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil) e seus colegas, as doenças cardiovasculares são a causa número um de morte no Brasil, onde a taxa de doenças não transmissíveis aumentou para 72% — um resultado do desenvolvimento econômico e social, dizem os autores. Embora as mortes por doenças cardiovasculares tenham diminuído 31% entre 1996 e 2007, a taxa de mortalidade por essas patologias no Brasil permanece entre as mais altas na América do Sul, em 286 por 100.000 pessoas em 2004. Em comparação, a taxa de mortalidade por doença cardiovascular nos EUA é de 179 por 100.000 e de 175 por 100.000 no Reino Unido.
Um panorama dos fatores de risco, obtido de uma série de diferentes fontes citadas no artigo, indica que 24% das mulheres e 17% dos homens acima dos 20 anos têm o diagnóstico de hipertensão arterial, número que aumentará para 50% ou mais, entre homens e mulheres com mais de 60 anos. A hipercolesterolemia é igualmente prevalente, observada em 22% dos adultos, subindo para 33% em adultos urbanos na idade de 45 anos.
Outros dados apontam para taxas crescentes de diabetes auto-referido, um aumento de 3,3% em 1998 para 5,3% em 2008. Só recentemente o Brasil tem realizado pesquisas sobre níveis de atividade física e dieta, mas estudos recentes sugerem que os adultos brasileiros, como em tantos países ao redor do globo, estão ficando mais pesados, com uma tendência rumo ao sobrepeso e à obesidade, entre os grupos socioeconômicos mais baixos.
No lado positivo, a prevalência de fumantes caiu dramaticamente, de quase 35% em 1989 para 17,2% em 2009. A cardiopatia reumática também diminuiu, sendo responsável por menos de 1% das mortes por etiologia cardiovascular em 2007.
Enquanto que a mortalidade por doença cardíaca isquêmica diminuiu 26% na década estudada, as mortes por doença cardíaca hipertensiva aumentaram 11% durante este período. Mais de um quarto de todas as internações em 2007 foram por doenças cardiovasculares em indivíduos com 60 anos ou mais de idade; neste grupo etário, a insuficiência cardíaca congestiva é a causa mais comum de internação hospitalar.
Notavelmente, as doenças cardiovasculares não são patologias de ricos no Brasil — em um estudo, a mortalidade por doenças cardiovasculares entre os moradores da área urbana na cidade de Porto Alegre foi 163% maior em bairros classificados no quartil mais baixo para o nível socioeconômico, em comparação com o quartil mais alto.
Os autores concluem alertando que os ganhos obtidos no combate à doença cardiovascular podem estar em um momento decisivo: "As tendências desfavoráveis para a maior parte dos principais fatores de risco mostram a necessidade de medidas adicionais e oportunas, especialmente na forma da legislação e regulamentação", concluíram Inês Schmidt e seus colegas.

Publicado originalmente por Ricardo Alexandre de Souza em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

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