Médico, formado em Turim, Itália. Especializou-se em saúde pública na Itália (Universidade de Turim) e na Inglaterra (London School of Tropical Medicine and Hygiene e Institute of Development Sudies de Brighton, Sussex). No final dos anos oitenta, junto com a Cooperaçao Italiana foi Coordenador do "Projeto Distrito Sanitário de Pau da Lima" em Salvador, Bahia, uma experiência pioneira com sistemas regionalizalizados de atenção à saúde no âmbito do SUS. Trabalhou em projetos de cooperação técnica na área da saúde com várias instituições em vários países da América Latina e da África, entre elas OPS, BID, Banco Mundial e Comunidade Européia. De 2001 a 2005 foi coordenador do programa "Cantieri", uma iniciativa nacional de apoio à reforma e modernização das administrações públicas, promovidas pelo governo da Itália. Desde 2008 coordena a Unidade Técnica de Serviços de Saúde da OPAS/OMS no Brasil.
1. Nesses quatro anos como coordenador de serviços de saúde na OPAS/Brasil, como o senhor avalia a contribuição da OPAS para o aperfeiçoamento do SUS em nosso país?
É difícil fazer uma avaliação desse tipo. O SUS é um sistema enorme, extremamente complexo e em contínua evolução. Para ter uma contribuição efetiva, a Opas deve tentar focar a sua cooperação/ apoio em alguns aspectos específicos, aonde pode realmente agregar valor. Na área de serviços de saúde nós tentamos focar nossa ação na gestão do conhecimento. Concentramos esforços para resgatar os saberes e os conhecimentos que são desenvolvidos pelos gestores do SUS nas diferentes realidades do Brasil. Com os Laboratórios de Inovação buscamos valorizar e divulgar práticas, instrumentos e metodologias de trabalho inovadoras para fortalecer a gestão do SUS, para apoiar os gestores a construir as próprias soluções se beneficiando das experiências de outros. Os gestores do SUS, para aprimorar a gestão e melhorar a qualidade da atenção à saúde, necessitam muito interagir, debater e conhecer outras experiências. O trabalho de análise e valorização de experiências inovadoras de gestão de redes de atenção foi a nossa principal contribuição nesses anos.
2. Em sua opinião, quais as vantagens de se organizar os serviços de APS com base na Estratégia Saúde da Família?
As vantagens são enormes e os benefícios para a população gigantescos! Mas a minha opinião conta pouco. O que conta de verdade são os inúmeros trabalhos de pesquisa e de análise que proporcionam evidências incontestáveis que, no Brasil, a Estratégia Saúde da Família levou a resultados extraordinários, por exemplo, a redução da taxa de mortalidade infantil e de menores de 5 anos, a queda das internações sensíveis a atenção ambulatorial, são apenas alguns exemplos do valor público produzido por esta política inovadora.
3. No cenário internacional, quais as possíveis contribuições e sinergismos podem surgir de uma maior interação entre os países integrantes do bloco BRICS para a construção das redes de atenção com base na APS?
Os países BRICS representam um grupo emergente de países, cujo papel no desenvolvimento global é muito importante. Graças ao rápido crescimento econômico dos últimos anos, os sistemas públicos desses países devem proporcionar às populações respostas sociais coerentes com as novas expectativas. Índia e China estão com grandes dificuldades, pois estão tirando da pobreza um grande número de pessoas, mas existem graves problemas de cobertura e de modelos de atenção nesses países. O Brasil, implementando a Saúde da Família, demonstrou que a cobertura universal é alcançável em prazos relativamente curtos e é uma estratégia sustentável. Acredito que o Brasil deveria se relacionar sempre mais com esses países, colocando a disposição a sua experiência e se propondo como país capaz de liderar um movimento global para fortalecer as políticas sociais dos países emergentes. A paz mundial depende também disso, o Brasil tem uma grande responsabilidade.
4. Frente a uma já prevista "epidemia" de doenças crônicas, em nível nacional e mundial, quais seriam, em sua opinião, três ações prioritárias que permitiriam mitigar este impacto?
A epidemia de condições crônicas veio para ficar. Aproximadamente 70-80% da carga de doença, em nível global, é causada por condições crônicas. Há uma ação fundamental, que é a mudança radical do modelo de atenção e, consequentemente, do modelo organizacional. Na perspectiva da atenção às condições crônicas, a continuidade do cuidado e a coordenação assistencial são centrais. Isso impõe mudanças radicais em vários níveis, principalmente na atenção primária, cujas práticas clínicas e organizativas devem ser inovadas. Os sistemas logísticos (regulação do acesso, transporte, registro e prontuários) e de apoio (medicamentos, procedimentos, laboratórios) têm que ser coerentes com as exigências da atenção primária. Os instrumentos de medicina baseada em evidência têm que permear toda a prática clínica.
5. No campo da pesquisa voltada para a APS, o que precisa mais urgentemente ser desenvolvido para dar sustentabilidade técnica às redes de atenção?
Acredito que seja necessário trabalhar intensamente para produzir evidências para promover esta estratégia. As redes de atenção coordenadas pela APS não podem representar uma moda ou uma tendência genérica de organização dos sistemas de saúde. Na área de organização da atenção à saúde, as pesquisas têm a grande responsabilidade de produzir evidências robustas que a integração dos serviços e a inovação das práticas de cuidado e de gestão pode concretamente ter impacto na melhoria da qualidade da atenção e consequentemente nos indicadores de saúde. Os estudos de caso são instrumentos importantes de análise e deveriam ser mais utilizados. O melhor método para encontrar soluções efetivas para melhorar a atenção é estudar e compreender os processos inovadores que estão acontecendo hoje no SUS, resultados da criatividade e competência dos gestores espalhados pelo Brasil.
6. Em seu novo trabalho, na sede regional da OPAS em Washington, como o senhor pretende continuar colaborando com a saúde no Brasil?
A designação para o Escritório Central da Opas em Washington constitui um grande desafio pessoal e profissional, pois assumirei o tema das redes de atenção à saúde baseadas na APS. Uma das minhas prioridades será valorizar algumas praticas e experiências do SUS, especialmente na atenção primária e na gestão de redes de atenção, pois estou convencido que o sistema público de saúde do Brasil, apesar de ter ainda muitos desafios pela frente, é uma ponta avançada no panorama global das políticas sociais, especialmente no âmbito dos países emergentes.
1. Nesses quatro anos como coordenador de serviços de saúde na OPAS/Brasil, como o senhor avalia a contribuição da OPAS para o aperfeiçoamento do SUS em nosso país?
É difícil fazer uma avaliação desse tipo. O SUS é um sistema enorme, extremamente complexo e em contínua evolução. Para ter uma contribuição efetiva, a Opas deve tentar focar a sua cooperação/ apoio em alguns aspectos específicos, aonde pode realmente agregar valor. Na área de serviços de saúde nós tentamos focar nossa ação na gestão do conhecimento. Concentramos esforços para resgatar os saberes e os conhecimentos que são desenvolvidos pelos gestores do SUS nas diferentes realidades do Brasil. Com os Laboratórios de Inovação buscamos valorizar e divulgar práticas, instrumentos e metodologias de trabalho inovadoras para fortalecer a gestão do SUS, para apoiar os gestores a construir as próprias soluções se beneficiando das experiências de outros. Os gestores do SUS, para aprimorar a gestão e melhorar a qualidade da atenção à saúde, necessitam muito interagir, debater e conhecer outras experiências. O trabalho de análise e valorização de experiências inovadoras de gestão de redes de atenção foi a nossa principal contribuição nesses anos.
2. Em sua opinião, quais as vantagens de se organizar os serviços de APS com base na Estratégia Saúde da Família?
As vantagens são enormes e os benefícios para a população gigantescos! Mas a minha opinião conta pouco. O que conta de verdade são os inúmeros trabalhos de pesquisa e de análise que proporcionam evidências incontestáveis que, no Brasil, a Estratégia Saúde da Família levou a resultados extraordinários, por exemplo, a redução da taxa de mortalidade infantil e de menores de 5 anos, a queda das internações sensíveis a atenção ambulatorial, são apenas alguns exemplos do valor público produzido por esta política inovadora.
3. No cenário internacional, quais as possíveis contribuições e sinergismos podem surgir de uma maior interação entre os países integrantes do bloco BRICS para a construção das redes de atenção com base na APS?
Os países BRICS representam um grupo emergente de países, cujo papel no desenvolvimento global é muito importante. Graças ao rápido crescimento econômico dos últimos anos, os sistemas públicos desses países devem proporcionar às populações respostas sociais coerentes com as novas expectativas. Índia e China estão com grandes dificuldades, pois estão tirando da pobreza um grande número de pessoas, mas existem graves problemas de cobertura e de modelos de atenção nesses países. O Brasil, implementando a Saúde da Família, demonstrou que a cobertura universal é alcançável em prazos relativamente curtos e é uma estratégia sustentável. Acredito que o Brasil deveria se relacionar sempre mais com esses países, colocando a disposição a sua experiência e se propondo como país capaz de liderar um movimento global para fortalecer as políticas sociais dos países emergentes. A paz mundial depende também disso, o Brasil tem uma grande responsabilidade.
4. Frente a uma já prevista "epidemia" de doenças crônicas, em nível nacional e mundial, quais seriam, em sua opinião, três ações prioritárias que permitiriam mitigar este impacto?
A epidemia de condições crônicas veio para ficar. Aproximadamente 70-80% da carga de doença, em nível global, é causada por condições crônicas. Há uma ação fundamental, que é a mudança radical do modelo de atenção e, consequentemente, do modelo organizacional. Na perspectiva da atenção às condições crônicas, a continuidade do cuidado e a coordenação assistencial são centrais. Isso impõe mudanças radicais em vários níveis, principalmente na atenção primária, cujas práticas clínicas e organizativas devem ser inovadas. Os sistemas logísticos (regulação do acesso, transporte, registro e prontuários) e de apoio (medicamentos, procedimentos, laboratórios) têm que ser coerentes com as exigências da atenção primária. Os instrumentos de medicina baseada em evidência têm que permear toda a prática clínica.
5. No campo da pesquisa voltada para a APS, o que precisa mais urgentemente ser desenvolvido para dar sustentabilidade técnica às redes de atenção?
Acredito que seja necessário trabalhar intensamente para produzir evidências para promover esta estratégia. As redes de atenção coordenadas pela APS não podem representar uma moda ou uma tendência genérica de organização dos sistemas de saúde. Na área de organização da atenção à saúde, as pesquisas têm a grande responsabilidade de produzir evidências robustas que a integração dos serviços e a inovação das práticas de cuidado e de gestão pode concretamente ter impacto na melhoria da qualidade da atenção e consequentemente nos indicadores de saúde. Os estudos de caso são instrumentos importantes de análise e deveriam ser mais utilizados. O melhor método para encontrar soluções efetivas para melhorar a atenção é estudar e compreender os processos inovadores que estão acontecendo hoje no SUS, resultados da criatividade e competência dos gestores espalhados pelo Brasil.
6. Em seu novo trabalho, na sede regional da OPAS em Washington, como o senhor pretende continuar colaborando com a saúde no Brasil?
A designação para o Escritório Central da Opas em Washington constitui um grande desafio pessoal e profissional, pois assumirei o tema das redes de atenção à saúde baseadas na APS. Uma das minhas prioridades será valorizar algumas praticas e experiências do SUS, especialmente na atenção primária e na gestão de redes de atenção, pois estou convencido que o sistema público de saúde do Brasil, apesar de ter ainda muitos desafios pela frente, é uma ponta avançada no panorama global das políticas sociais, especialmente no âmbito dos países emergentes.
Fonte: Rede de Pesquisas em APS
Publicado originalmente por Leonardo C M Savassi