segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Rede de Pesquisas APS entrevista Renato Tasca

Médico, formado em Turim, Itália. Especializou-se em saúde pública na Itália (Universidade de Turim) e na Inglaterra (London School of Tropical Medicine and Hygiene e Institute of Development Sudies de Brighton, Sussex). No final dos anos oitenta, junto com a Cooperaçao Italiana foi Coordenador do "Projeto Distrito Sanitário de Pau da Lima" em Salvador, Bahia, uma experiência pioneira com sistemas regionalizalizados de atenção à saúde no âmbito do SUS. Trabalhou em projetos de cooperação técnica na área da saúde com várias instituições em vários países da América Latina e da África, entre elas OPS, BID, Banco Mundial e Comunidade Européia. De 2001 a 2005 foi coordenador do programa "Cantieri", uma iniciativa nacional de apoio à reforma e modernização das administrações públicas, promovidas pelo governo da Itália. Desde 2008 coordena a Unidade Técnica de Serviços de Saúde da OPAS/OMS no Brasil.


1. Nesses quatro anos como coordenador de serviços de saúde na OPAS/Brasil, como o senhor avalia a contribuição da OPAS para o aperfeiçoamento do SUS em nosso país?
É difícil fazer uma avaliação desse tipo. O SUS é um sistema enorme, extremamente complexo e em contínua evolução. Para ter uma contribuição efetiva, a Opas deve tentar focar a sua cooperação/ apoio em alguns aspectos específicos, aonde pode realmente agregar valor. Na área de serviços de saúde nós tentamos focar nossa ação na gestão do conhecimento. Concentramos esforços para resgatar os saberes e os conhecimentos que são desenvolvidos pelos gestores do SUS nas diferentes realidades do Brasil. Com os Laboratórios de Inovação buscamos valorizar e divulgar práticas, instrumentos e metodologias de trabalho inovadoras para fortalecer a gestão do SUS, para apoiar os gestores a construir as próprias soluções se beneficiando das experiências de outros. Os gestores do SUS, para aprimorar a gestão e melhorar a qualidade da atenção à saúde, necessitam muito interagir, debater e conhecer outras experiências. O trabalho de análise e valorização de experiências inovadoras de gestão de redes de atenção foi a nossa principal contribuição nesses anos.

2. Em sua opinião, quais as vantagens de se organizar os serviços de APS com base na Estratégia Saúde da Família?
As vantagens são enormes e os benefícios para a população gigantescos! Mas a minha opinião conta pouco. O que conta de verdade são os inúmeros trabalhos de pesquisa e de análise que proporcionam evidências incontestáveis que, no Brasil, a Estratégia Saúde da Família levou a resultados extraordinários, por exemplo, a redução da taxa de mortalidade infantil e de menores de 5 anos, a queda das internações sensíveis a atenção ambulatorial, são apenas alguns exemplos do valor público produzido por esta política inovadora.


3. No cenário internacional, quais as possíveis contribuições e sinergismos podem surgir de uma maior interação entre os países integrantes do bloco BRICS para a construção das redes de atenção com base na APS?
Os países BRICS representam um grupo emergente de países, cujo papel no desenvolvimento global é muito importante. Graças ao rápido crescimento econômico dos últimos anos, os sistemas públicos desses países devem proporcionar às populações respostas sociais coerentes com as novas expectativas. Índia e China estão com grandes dificuldades, pois estão tirando da pobreza um grande número de pessoas, mas existem graves problemas de cobertura e de modelos de atenção nesses países. O Brasil, implementando a Saúde da Família, demonstrou que a cobertura universal é alcançável em prazos relativamente curtos e é uma estratégia sustentável. Acredito que o Brasil deveria se relacionar sempre mais com esses países, colocando a disposição a sua experiência e se propondo como país capaz de liderar um movimento global para fortalecer as políticas sociais dos países emergentes. A paz mundial depende também disso, o Brasil tem uma grande responsabilidade.

4. Frente a uma já prevista "epidemia" de doenças crônicas, em nível nacional e mundial, quais seriam, em sua opinião, três ações prioritárias que permitiriam mitigar este impacto?
A epidemia de condições crônicas veio para ficar. Aproximadamente 70-80% da carga de doença, em nível global, é causada por condições crônicas. Há uma ação fundamental, que é a mudança radical do modelo de atenção e, consequentemente, do modelo organizacional. Na perspectiva da atenção às condições crônicas, a continuidade do cuidado e a coordenação assistencial são centrais. Isso impõe mudanças radicais em vários níveis, principalmente na atenção primária, cujas práticas clínicas e organizativas devem ser inovadas. Os sistemas logísticos (regulação do acesso, transporte, registro e prontuários) e de apoio (medicamentos, procedimentos, laboratórios) têm que ser coerentes com as exigências da atenção primária. Os instrumentos de medicina baseada em evidência têm que permear toda a prática clínica.

5. No campo da pesquisa voltada para a APS, o que precisa mais urgentemente ser desenvolvido para dar sustentabilidade técnica às redes de atenção?
Acredito que seja necessário trabalhar intensamente para produzir evidências para promover esta estratégia. As redes de atenção coordenadas pela APS não podem representar uma moda ou uma tendência genérica de organização dos sistemas de saúde. Na área de organização da atenção à saúde, as pesquisas têm a grande responsabilidade de produzir evidências robustas que a integração dos serviços e a inovação das práticas de cuidado e de gestão pode concretamente ter impacto na melhoria da qualidade da atenção e consequentemente nos indicadores de saúde. Os estudos de caso são instrumentos importantes de análise e deveriam ser mais utilizados. O melhor método para encontrar soluções efetivas para melhorar a atenção é estudar e compreender os processos inovadores que estão acontecendo hoje no SUS, resultados da criatividade e competência dos gestores espalhados pelo Brasil.

6. Em seu novo trabalho, na sede regional da OPAS em Washington, como o senhor pretende continuar colaborando com a saúde no Brasil?
A designação para o Escritório Central da Opas em Washington constitui um grande desafio pessoal e profissional, pois assumirei o tema das redes de atenção à saúde baseadas na APS. Uma das minhas prioridades será valorizar algumas praticas e experiências do SUS, especialmente na atenção primária e na gestão de redes de atenção, pois estou convencido que o sistema público de saúde do Brasil, apesar de ter ainda muitos desafios pela frente, é uma ponta avançada no panorama global das políticas sociais, especialmente no âmbito dos países emergentes.



Publicado originalmente por Leonardo C M Savassi

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O que é melhor para populações vulneráveis: abordagens focadas ou integradas?

O periódico BMC Public Health publicou uma revisão sistemática da literatura comparando duas diferentes estratégias para melhorar a saúde de populações prioritárias: desenvolver programas focados em seus principais problemas de saúde, ou integrar esses programas às funções principais do sistema de saúde. Apesar da pouca evidência disponível, os modelos integrados mostraram ser capazes de aumentar a adesão ao tratamento por pessoas difíceis de se alcançar ou resistentes a tratamento. Além disso, os modelos integrados mostraram trazer melhorias na qualidade do cuidado, em desfechos clínicos, na satisfação dos pacientes, e na alocação dos recursos.

Assim como outros aspectos das políticas de saúde, a opção entre modelos verticais ou horizontais depende de muito mais do que de evidências científicas. Mas o mundo vive um momento em que grandes fortunas são colocadas em serviços focais, a título de uma suposta racionalidade utilitária. Por isso mesmo, vale a pena voltar a destacar que os sistemas de saúde integrados são os que trazem os melhores resultados — sem adição de custo.

Publicado por Leonardo Ferreira Fontenelle no blog Medicina de Família.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Vídeo e encartes auxiliam a discutir mamografia com pacientes

CTFPHC: Breast Cancer Screening 2011 Guideline


A Força-Tarefa Canadense de Cuidados Preventivos (CTFPHC) lançou um vídeo para facilitar a discussão médico-paciente em torno de rastreio do cancer da mama. Segundo a Task Force, "Esperamos que esta ferramenta vá ajudar a interpretar a diretriz rastreio do cancer da mama e trazer a importância da discussão médico-paciente em foco. Cada paciente é diferente, e nós encorajamos cada mulher a discutir os riscos e benefícios da triagem com o seu médico antes de decidir sobre a melhor abordagem para eles."



Um outro instrumento interessante (apesar de em inglês) que pode ser utilizado é um encarte com um fluxograma dedicado à paciente, acerca das indicações de triagem com a mensagem: "você deveria ser triada por mamografia para câncer de mama?", além de um FAQ (questões mais comuns) que foi lançado para orientar pacientes.

Mas porque tudo isto?

Em novembro de 2011, a Força-Tarefa lançou as "Recomendações sobre o rastreio do câncer da mama em mulheres de risco habitual com idade entre 40-74 anos", publicado no Canadian Medical Association Journal. Estas recomendações pesaram benefícios potenciais do rastreamento do câncer de mama contra danos de falsos positivos e biópsias desnecessárias.

A Força-Tarefa observou algumas imprecisões e distorções na cobertura da mídia acerca das recomendações e, por uma questão de clareza, trouxe este material complementar (vídeo, cartilhas, além de distribuir material por email amplamente)

A CTFPHC ressaltou o seguinte para os leigos:

• Ao contrário do que os leitores podem ter concluído a partir de parte da cobertura da mídia, a força-tarefa não é anti-exame, nem a favor do screening. A diretriz atualizada apóia uma triagem ideal. Estas recomendações foram desenvolvidas para garantir o melhor uso da mamografia e exames para as mulheres na faixa etária 40-74 com risco médio de desenvolver câncer de mama.

• Nossa orientação científica sobre o rastreio do câncer da mama é atual até outubro de 2011. E, assim como os painéis de peritos independentes em outros países, a Força-Tarefa não inclui estudos observacionais para avaliar os benefícios por causa do maior risco de vieses e de sobreestimar os benefícios do tratamento/ triagem, pois estes têm um risco inerentemente superior de chegar a conclusões incorretas sobre os seus potenciais
benefícios.

• A orientação da Força Tarefa sobre mamografia está de acordo
em grande parte com as práticas atuais dos programas de rastreio estaduais e territoriais. A maioria das províncias canadenses não recruta ativamente pacientes com menos de 50 anos de idade.

Relatando os fatos:

As mulheres abaixo de 50 anos de idade podem se submeter a uma mamografia em muitas províncias via auto-referência ou encaminhamento médico - o que é consistente com a recomendação da Força Tarefa de que as mulheres e seus médicos tenham um diálogo afinado sobre as suas opções e se o indivíduo deve ou não passar por uma triagem.

• Nossas recomendações também são consistentes com as diretrizes de organizações independentes nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália. Outras grandes organizações canadenses, como o Colégio de Médicos de Família do Canadá e da Sociedade Canadense do Câncer aprovaram as Diretrizes.

• Os membros da Força-Tarefa são todos voluntários não remunerados, e ao contrário do que foi apontado por muitos críticos desta recomendação, não temos quaisquer conflitos financeiros ou de interesse científico. Para mais informações sobre a política de conflito de interesses da Força-Tarefa, consulte nosso Manual de Procedimentos.

Em última instância, queremos que as mulheres compreendam os benefícios e os riscos de mamografia e falem com seus prestadores de cuidados primários sobre esses benefícios e riscos ao discutir as suas opções para o rastreio do câncer da mama.


Publicado originalmente por Leonardo C M Savassi http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Terapia Oral para DM-2 (recomendações baseadas em evidência)

Orientações da American College of Physicians (ACP) sobre tratamento oral da diabetes tipo 2

Oral Pharmacologic Treatment of Type 2 Diabetes Mellitus: A Clinical Practice Guideline From the American College of Physicians


O Colégio Americano de Medicina atualizou suas diretrizes baseadas em evidências para o tratamento oral de diabetes tipo 2.

As principais recomendações, publicadas na revista Annals of Internal Medicine, foram: incluir tratamento oral quando a dieta, exercício, perda de peso e não melhoraram a hiperglicemia, utilizar a metformina como droga de escolha para monoterapia inicial a menos que contra-indicada, incluir um segundo agente oral se metformina e estilo de vida não controlarem a hiperglicemia.

Estas são as recomendações e seus respectivos graus:
  • Recomendação 1: ACP recomenda adicionar a terapia farmacológica oral em pacientes diagnosticados com diabetes tipo 2, quando modificações de estilo de vida, incluindo dieta, exercício e perda de peso, não conseguiram melhorar de forma adequada a hiperglicemia (Grau: forte recomendação; evidência de alta qualidade).
  • Recomendação 2: ACP recomenda que os médicos prescrevam a monoterapia com metformina para o tratamento farmacológico inicial da maioria dos pacientes com diabetes tipo 2 (Grade: forte recomendação; evidência de alta qualidade).
  • Recomendação 3: ACP recomenda adicionar um segundo agente oral à metformina para o tratamento de pacientes com hiperglicemia persistente quando as modificações de estilo de vida e monoterapia com metformina não conseguem controlar a hiperglicemia (Grau: forte recomendação, evidência de elevada qualidade)
Os autores ressaltam que nenhuma terapia de combinação é recomendada em detrimento de outra, mas alguns estudos indicam que a metformina associada a outro agente geralmente tem melhor eficácia do que outras monoterapias ou outras terapias de combinação.

Orientações estão disponíveis em livre acesso no Annals of Internal Medicine (PDF):


Publicado originalmente por Leonardo Savassi

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Sulfato ferroso não previne fadiga em pessoas com deficiência de ferro sem anemia

A solicitação de exames laboratoriais "de rotina" leva à detecção de alterações sem repercussão clínica, e frequentemente sem a certeza de que um "tratamento" vá de fato trazer algum benefício para a pessoa atendida. Um exemplo é a detecção de carência de ferro (ferropenia) em pessoas sem anemia.

Os pesquisadores suíços Waldvogel e colaboradores (2012) recrutaram 154 mulheres que tinham doado sangue havia uma semana, e que tinham ferritina menor ou igual a 30 ng/mL mas hemoglobina maior ou igual a 12 g/dL. As mulheres foram alocadas aleatoriamente entre receber placebo ou 80 miligramas de sulfato ferroso ao dia, por 4 semanas.

Do ponto de vista laboratorial, a administração de sulfato ferroso diminuiu o risco de que as mulheres evoluíssem com piora do nível de hemoglobina (NNT 6), ou com níveis de ferritina menor do que 12 ng/mL (de 57,7% para 2,7% das doadoras; NNT 2). Por outro lado, não houve diferença significativa na recuperação da capacidade aeróbica, medida pelo teste do degrau de Chester.

Já do ponto de vista clínico, a administração de sulfato ferroso não diminui os níveis de fadiga, medidos por três diferentes indicadores, ao contrário do previsto por pesquisas anteriores.

Os efeitos adversos, por outro lado, foram bem mais prevalentes entre as doadoras de sangue que receberam sulfato ferroso (NNH 4). O efeito adverso mais comum foi o endurecimento das fezes (NNH 7).

Os pesquisadores concluíram que a suplementação de ferro não traz benefícios clínicos a curto prazo para pessoas com deficiência de ferro — pelo menos no caso dos doadores de sangue. Por outro lado, são necessários estudos sobre os efeitos a longo prazo.

Citação:

Publicado originalmente por Leonardo Ferreira Fontenenelle
http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Homens, Mulheres e Estatinas




























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Men, Women and Statins

HealthDay, February 6, 2012

Será que um medicamento prescrito comumpara proteger o coração funciona tão bem em mulheres como em homens?


Milhões de americanos estão agora a tomar estatinas. Estas destinam-se a diminuir o seu colesterol, que por sua vez pode ajudar a protegê-lo de doenças do coração.

No entanto, especialistas não sabem muito sobre como como essas drogas funcionam em mulheres.

Pesquisadores recentemente revisaram os resultados de 18 estudos anteriores que envolviam mais de 40.000 mulheres.

Os ataques cardíacos, relacionados com o coração mortes, e outros problemas cardíacos foram menos propensos em que aqueles que tomaram um medicamento estatina.

Ambos os pacientes do sexo masculino e feminino que tomaram este medicamento
tiveram cerca de 20 por cento menos probabilidade para esses problemas.
Eles também tinham menos probabilidade de morrer em geral.

O estudo encontrou benefícios tanto para as mulheres com um histórico de problemas cardíacos e mulheres que nunca tiveram problemas cardíacos.

As estatinas podem ser úteis, mas eles não são para todos.

Antes de prescrever uma estatina, o seu médico vai querer discutir outras questões
que colocar seu coração em risco, incluindo se:

  • você fuma
  • Tem diabetes, pressão de sangue elevada, ou um estilo de vida sedentário
  • Você está acima do peso
  • Ou você tem uma história familiar de doença cardíaca.


Publicado originalmente por Leonardo Savassi http://medicinadefamiliabr.blogspot.com