domingo, 22 de março de 2015

(Ainda) não há resistência de MRSA comunitário nas infecções de pele nos EEUU.

Clindamycin versus Trimethoprim–Sulfamethoxazole for Uncomplicated Skin Infections

DOI: 10.1056/NEJMoa1403789

Trimetoprim-sulfametoxazol (TMP-SMZ) e clindamicina tem taxas de cura semelhantes em pacientes com infecções cutâneas não complicadas, de acordo com um estudo publicado no New England Journal of Medicine de 2015.


Entenda

O tratamento da celulite (atenção leigos: celulite não é aquelas alterações de fundo "estético", mas infecções de pele e subcutâneo representados por vermelhidão, calor local e febre) ou erisipela no Brasil é feito em geral a base de cefalosporinas de primeira geração. 

Nos Estados Unidos, porém, há um aumento no número de Staphylococcus aureus meticilina-resisentes (MRSA) de âmbito comunitário, fruto do uso indiscriminado de antibióticos pela população, com ou sem orientação médica. 

Com isto, cresceu o temor de que infecções cutâneas pudessem ser resistentes a antibióticos de primeira linha. A boa notícia é que parece que isto ainda não ocorreu.



O que este artigo acrescenta:

Os investigadores registraram cerca de 500 pacientes ambulatoriais (idade média de 27 anos), com celulite, abscesso, ou ambos em centros médicos em regiões onde Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) adquirido na comunidade é endêmico. Os participantes foram randomizados para TMP-SMZ ou clindamicina por 10 dias.

A taxa de cura 7-10 dias após a conclusão da terapia foi semelhante nos dois grupos (aproximadamente 80%). Os efeitos adversos - mais comumente, queixas gastrintestinais - ocorreram em cerca de 19% dos pacientes em cada grupo. Nem infecção por Clostridium difficile nem eventos adversos graves  foram relatados em ambos os grupos.

A principal conclusão é que a monoterapia com TMP-SMZ pode ser uma opção de tratamento para celulite não purulenta - para uma subpopulação mais jovem muito seleto com infecções não complicadas, sem manifestações sistêmicas, e com poucas ou nenhumas condições de comorbidade. 

Para a maioria dos pacientes, no entanto, os antibióticos beta-lactâmicos com atividade contra estreptococos beta-hemolíticos e S. aureus (por exemplo, cefalexina ou dicloxacilina) continuam a ser as opções empíricas de primeira linha para a celulite não purulenta. 

No Brasil, portanto, podemos continuar usando a cefalexina, tendo em mente que o TMP-SMZ pode ser uma opção válida e de melhor adesão ao esquema terapêutico (12/12 horas). 



Leia o resumo traduzido:
FUNDO: As infecções de pele e da estrutura da pele são comuns em ambientes ambulatoriais. No entanto, a eficácia de vários regimes de antibióticos na era do Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) adquirido na comunidade não está clara.
MÉTODOS: Foram incluídos pacientes ambulatoriais com infecções cutâneas não complicadas que tiveram celulite, abcessos maiores que 5 cm de diâmetro (menores para as crianças mais jovens), ou ambos. Os pacientes foram inscritos em quatro locais de estudo. Todos foram submetidos a incisão e drenagem de abcessos. Os pacientes foram distribuídos aleatoriamente em uma proporção de 1:1 para receber clindamicina ou sulfametoxazol-trimetoprim (TMP-SMZ) por 10 dias. Os doentes e os investigadores não tinham conhecimento das atribuições de tratamento e os resultados dos testes microbiológicos. O desfecho primário foi a cura clínica 7 a 10 dias após o final do tratamento.
RESULTADOS: Um total de 524 pacientes foram arrolados (264 no grupo de clindamicina e 260 no grupo TMP-SMZ), incluindo 155 crianças (29,6%). Cento e sessenta pacientes (30,5%) tiveram abscesso, 280 (53,4%) tinham celulite, e 82 (15,6%) tiveram infecção mista, definida como pelo menos uma lesão abcesso e uma lesão celulite. S. aureus foi isolado das lesões de 217 doentes (41,4%); os isolados em 167 (77,0%) desses pacientes eram MRSA. A proporção de pacientes curados foi semelhante nos dois grupos de tratamento na população de intenção de tratar (80,3% no grupo de clindamicina e 77,7% no grupo TMP-SMZ; diferença de -2,6 pontos percentuais; intervalo de confiança de 95% [IC ], -10,2 a 4,9; P = 0,52) e para as populações de pacientes que puderam ser avaliados (466 pacientes; 89,5% no grupo de clindamicina e 88,2% no grupo TMP-SMZ; diferença, -1,2 pontos percentuais; 95% CI, -7,6 para 5,1; P = 0,77). As taxas de cura não diferiram significativamente entre os dois tratamentos nos subgrupos de crianças, adultos e pacientes com abscesso contra celulite. A proporção de pacientes com eventos adversos foi similar nos dois grupos.
CONCLUSÕES: Não houve diferença significativa entre a clindamicina e TMP-SMZ, com relação a eficácia ou perfil de efeitos colaterais, para o tratamento de infecções cutâneas não complicadas, incluindo tanto a celulite e abscesso. 
Número ClinicalTrials.gov: NCT00730028

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Publicado originalmente por Leonardo Savassi em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com

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