segunda-feira, 25 de julho de 2011

Carta de Gusso, Guerváz e Mercedez ao The Lancet

Brazilian health-service organisation: problems at a glance

A série The Lancet sobre Brasil abrange quase todos os campos importantes para a saúde: a política de saúde, violência, doenças infecciosas, doenças crônicas não-transmissíveis e saúde materna e infantil. Mas no geral dá uma visão parcial de um país pobre com um sistema de saúde com base em programas verticais.

Na série está faltando, pelo menos, um artigo sobre a teoria da atenção primária e como ela está sendo trabalhada no Brasil e um artigo sobre organização dos serviços de saúde em geral. Tais artigos podem cobrir a distribuição geográfica desigual dos médicos (por exemplo, um por 574 habitantes na capital do estado do Amazonas, Manaus, em comparação com um por 9000 no resto do Amazonas), ou a má acessibilidade dos centros de saúde forçando pacientes para visitar a serviços de urgência sem a continuidade dos cuidados.

Perguntas que permanecem sem resposta são: a sociedade brasileira quer um sistema de saúde público universal; os membros das classes média e alta do Brasil sabe a importância de um sistema de saúde público forte; são políticas brasileiras a promoção de um sistema público de saúde para os pobres e um outro privado para o resto da população?

Um obstáculo principal a estas perguntas é a pressão sobre os epidemiologistas, gestores e acadêmicos para coletar dados de forma vertical. No entanto, a violência não pode ser vista como separada da doença infecciosa, da mortalidade materna, da toxicodependência, ou do desemprego. A Estratégia Saúde da Família, citada na maioria dos trabalhos da série, tem sido um veículo através do qual muitas ações verticais já foram integradas, e os resultados têm sido bem estudados. O que os leitores realmente precisam saber são os obstáculos para ir mais longe nesta respeito.

O resultado da série The Lancet é uma coleção de dados de saúde excelente mas vazia de mensagens relevantes para a tomada de decisões em torno da política de organização da saúde . Há a necessidade de entender a saúde no Brasil em termos das melhores respostas para os problemas dos serviços de saúde

Acesse a carta:










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Publicado originalmente por Leonardo C M Savassi

4 comentários:

  1. Eu sou contrário ao SUS, quanto ao fato de exames complementares e consultas serem totalmente de graça. A utopia do SUS de graça e bom não existe. Todos sabemos que faltam exames gratúitos. A fila do SUS fácil na realidade é SUS difícil (Morrem muitas pessoas na fila).
    Eu sou a favor, de se cobrar preços irrisórios para que sentindo no bolso, os pacientes não façam tanta cobrança por exames (por exemplo, para paciente que receba salário mínimo, pagar 4 reais a consulta, e 1 real cada exame). Além do que, quando somarmos esses pequenos valores cobrados, o SUS passaria a ter mais recursos.
    ass: dr Emílio Carlos Ávila de Paiva, CRM 34860

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  2. Emílio,
    Respeito tua opinião, apesar de discordar dela. Acho que, pelo contrário, quando todos (inclusive a classe média e os 5% do topo da pirâmide) utilizarem a assistência do SUS (como já usam todos os outros serviços como anvisa, vacinas, laboratórios, pesquisa, medicamentos, etc...), teremos um sistema de saúde maduro. A saúde suplementar é o grande empecilho a esta consolidação.

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  3. Cobrança por exames desnecessários se resolve por evidências científicas e educação em saúde.

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  4. Prezado Leonardo Savassi, não consigo vislumbrar toda a sociedade brasileira sendo de fato assistida pelo SUS (com a atual realidade de tantos desvios de verbas públicas, e pelo fato do lucro que existe com a "comercialização" da saúde, pela saúde complementar).
    E ainda, penso que apenas à longo prazo, teremos médicos da ESF, na sua maioria, com perfil (e não apenas aguardando para passar em residência de outra especialidade), para através da educação e evidências, se reduzir a solicitação de exames desnecessários.
    ass: Emílio Carlos Ávila de Paiva

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