Breast Cancer Screening in Denmark: A Cohort Study of Tumor Size and Overdiagnosis
O que sabemos
Estudos de triagem devem ser rápidos, baratos, eficazes, e detectar precocemente doenças para as quais um tratamento diferencial e efetivo pode ser ofertado no momento da detecção precoce.
Atualmente, as ações de rastreio tem sido cada vez mais questionadas, sob a avaliação de que muitas vezes detectam situações que não chegarão a se constituir em doenças, podendo causar mais danos que benefícios.
A Prevenção Quaternária, ou prevenção de iatrogenias, se dedica a avaliar estas situações, e estudos sobre os malefícios de estratégias preventivas vem sendo desenvolvidos cada vez com maior frequência.
Um programa de triagem de câncer da mama deveria portanto reduzir a incidência de tumores mais perigosos e avançados ao longo do tempo, e não triar tumores iniciais que podem levar pacientes ao dano.
O que este estudo traz
O estudo de coorte da Dinamarca é especialmente importante porque neste país acompanhou-se por 17 anos unicamente 20% das mulheres com idade elegível que foram convidadas para participar na triagem, enquanto aos outras 80% não foram submetidas a triagem.
Isso permitiu que os investigadores dinamarqueses incluíssem mulheres que não haviam sido submetidas a qualquer triagem como controles em sua análise, não dependendo de uma amostra limitante de controles.
Com isto, os 17 anos representam o período mais longo de "acesso diferenciado à mamografia" em qualquer país, e com a possibilidade de controles ecológicos e melhor pareamento.
Os tumores iniciais ou não avançados foram definidos como cânceres com menos de 20 mm e tardios/ avançados se acima de 20 mm. Assim, os investigadores dinamarqueses descobriram que apenas a "incidência" de tumores não-avançados aumentou "acentuadamente" no período de triagem versus o período pré-teste (incidência de 1,49; I.C 95% = 1,43-1,54). Em outras palavras, os pesquisadores descobriram que os exames de triagem não estavam detectando precocemente tumores avançados, mas apenas aumentando a detecção de tumores iniciais.
Assim, o que está cada vez mais claro é que a triagem de câncer de mama também não é isenta de sobrediagnóstico e de danos a quem a realiza de rotina, o que ainda não é fator suficiente para abandonarmos a mamografia como método. Mas que certamente levanta mais questionamentos sobre o rastreio universal e sobre sua periodicidade.
Definir QUAIS mulheres deveriam ser rastreadas e sob qual periodicidade nos parece ser uma alternativa cada vez mais adequada, a partir desse corpo de evidências.
Leia o Abstract Traduzido
Pano-de-fundo: O rastreio eficaz do câncer da mama deve detectar o tumor em estágio inicial e prevenir a doença avançada.
Objetivo: Avaliar a associação entre o rastreio e o tamanho dos tumores detectados e estimar o sobrediagnóstico (detecção de tumores que não se tornariam clinicamente relevantes).
Design: Estudo de coorte.
Configuração: Dinamarca de 1980 a 2010.
Participantes: Mulheres de 35 a 84 anos.
Intervenção: Programas de rastreamento que oferecem mamografia bienal para mulheres com idades entre 50 e 69 anos começando em diferentes regiões em momentos diferentes.
Medições: Foram medidas as tendências na incidência de tumores de cancro da mama avançados (> 20 mm) e não avançados (≤ 20 mm) em mulheres pesquisadas e não pesquisadas. Duas abordagens foram utilizadas para estimar a quantidade de sobrediagnóstico: comparando a incidência de tumores avançados e não avançados entre mulheres de 50 a 84 anos em áreas de rastreio e não- E comparando a incidência de tumores não avançados entre mulheres de 35 a 49 anos, de 50 a 69 anos e de 70 a 84 anos em áreas de rastreio e não-screening.
Resultados: A triagem não foi associada com menor incidência de tumores avançados. A incidência de tumores não avançados aumentou nos períodos de rastreio versus pré-rastreio (taxa de incidência, 1,49 [IC 95%, 1,43 a 1,54]). A primeira abordagem de estimação descobriu que 271 tumores de mama invasivos e 179 lesões de carcinoma ductal in situ (DCIS) foram superdiagnosticados em 2010 (taxa de sobrediagnóstico de 24,4% [incluindo DCIS] e 14,7% [excluindo DCIS]). A segunda abordagem, que explicou as diferenças regionais em mulheres mais jovens do que a idade de triagem, revelou que 711 tumores invasivos e 180 casos de DCIS foram superdiagnosticados em 2010 (taxa de sobrediagnóstico de 48,3% [incluindo DCIS] e 38,6% [excluindo DCIS]).
Limitação: As diferenças regionais complicam a interpretação.
Conclusão: O rastreio do câncer da mama não foi associado com uma redução na incidência de tumor avançado. É provável que 1 em cada 3 tumores invasivos e casos de DCIS diagnosticados em mulheres oferecidas rastreio representam overdiagnosis (aumento da incidência de 48,3%).
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Publicado originalmente em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com
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