Entenda
A partir de junho de 2015 o e-SUS AB será universal, o que significa dizer que todos os municípios deverão fazer uso dele para informar as ações desenvolvidas na Atenção Primária. A ferramenta já é usada em pelo menos uma unidade de saúde de 45,6% dos municípios brasileiros.
A partir de maio, os 1.296 municípios que ainda não iniciaram a implantação do e-SUS AB (segundo dados do Ministério da Saúde) contarão o apoio presencial de consultores especializadospara pactuar agendas locais ou regionais, instalar o software necessário e realizar oficinas para capacitar os trabalhadores.
Por meio do e-SUS AB, a rede de atendimento na APS alimentará o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SIS-AB), que substituirá o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB).Dentro do e-SUS AB e portanto da rede SIS-AB, a produção médica passa a contar com a ficha de atendimento individual que contempla, a partir de então, a Classificação Internacional da Atenção Primária (CIAP) para o registro de diagnósticos
Detalhe da ficha de Atendimento Individual: No verso, o preenchimento se dá preferencialmente pela CIAP
A licença para o uso da CIAP no Brasil foi adquirida pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade e pelo Ministério da Saúde na década passada, mas apenas agora, com o e-SUS AB, passa a ter maior visibilidade.
Mas afinal, o que é a CIAP?
A Classificação Internacional da Atenção Primária segue uma lógica de capítulos até certo ponto similar a Classificação Internacional de Doenças (CID), mas suas semelhanças param por aí.
Em primeiro lugar, ao se usar a CIAP, está-se usando uma classificação que não é médico-específica, podendo igualmente ser usada por diversos profissionais de saúde. Em outras palavras: hoje médicos usam CID, enfermeiros a CIPESC (Classificação Internacional de Procedimentos de Enfermagem em Saúde Coletiva), Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade) e assim por diante. Com a CIAP a comunicação melhora muito.
Em segundo lugar, a CIAP classifica motivos de consultas, ou motivos pelos quais a pessoa procurou o sistema de saúde. Na Atenção Primária, até 50% das consultas não tem elementos suficientes para se chegar a um diagnóstico determinado. Isto vai de encontro a alguns pontos:
- Entender o adoecimento, ou seja, a perspectiva do paciente, ao se registrar o que a trouxe ao consultório e não a suspeita do profissional.
- Classificar o motivo real da consulta e não o provável diagnóstico, não tentando encaixar obrigatoriamente o paciente em uma caixinha de diagnóstico (muitas vezes causando iatrogenia).
- Apresentar também motivos de consultas que não são "doenças" (e portanto não são classificáveis pela CID), tais como medo de câncer, preocupação com a aparência, problemas com a vizinhança ou relacionados ao trabalho, problema conjugal, perda de familiar. Não são doenças, mas são fatores que definitivamente afetam a saúde.
Em terceiro lugar, a CIAP segue uma organização do processo diagnóstico em sete componentes iguais para todos os capítulos:
1 Componente de queixas e sintomas
2 Componente de procedimentos diagnósticos e preventivos
3 Componente de medicações, tratamentos e procedimentos terapêuticos
4 Componente de resultados de exames
5 Componente administrativo
6 Componente de acompanhamento e outros motivos de consulta
7 Componente de diagnósticos e doenças, incluindo: doenças infecciosas, neoplasias, lesões, anomalias congênitas e outras doenças específicas;
Assim, a sua classificação em linhas gerais segue a seguinte lógica:
1 Componente de queixas e sintomas
2 Componente de procedimentos diagnósticos e preventivos
3 Componente de medicações, tratamentos e procedimentos terapêuticos
4 Componente de resultados de exames
5 Componente administrativo
6 Componente de acompanhamento e outros motivos de consulta
7 Componente de diagnósticos e doenças, incluindo: doenças infecciosas, neoplasias, lesões, anomalias congênitas e outras doenças específicas;
Assim, a sua classificação em linhas gerais segue a seguinte lógica:
Fonte: Landsberg et al, 2012 [link abaixo]
Em quarto lugar, a CIAP traz sempre três informações que representam melhor o contato da pessoa com seu profissional longitudinal de saúde do que simplesmente um rótulo que define uma doença (LANDSBERG, 2011):
- O Motivo da consuta;
- O Diagnóstico ou problema percebido pelo profissional;
- A Intervenção ou procedimento feito em relação ao problema.
Como utilizar a CIAP?
A CIAP, portanto, é composta pelos seguintes capítulos:
CAPÍTULO DA CIAP-2
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A – GERAL E INESPECÍFICO
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B – SANGUE, SISTEMA
HEMATOPOIÉTICO, LINFÁTICO E BAÇO
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D – DIGESTIVO
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F – OLHO
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H – OUVIDO
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K – CIRCULATÓRIO
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L – MÚSCULO-ESQUELÉTICO
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N – NEUROLÓGICO
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P – PSICOLÓGICO
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R – RESPIRATÓRIO
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S – PELE
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T - ENDÓCRINO/METABÓLICO/NUTRICIONAL
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U – URINÁRIO
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W - GRAVIDEZ/PARTO E
PLANEJ. FAMILIAR
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X – GENITAL FEMININO
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Y – GENITAL MASCULINO
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Z – PROBLEMAS SOCIAIS
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Você pode consultar a CIAP (em sua edição atual) nos quadros a seguir, de maneira mais simplificada, ou visitar o livro online, mais completo, cujo link se encontra ao final dessa postagem. Para ver em formato legível, clique em cada figura a seguir (e depois utilize a lupa):
O livro suprareferido (cujo link encontra-se ao final dessa postagem) contempla inclusive uma tabela de conversão CIAP - CID - CIAP. Vale a pena baixar e ter em mãos.
Leia ainda:
Medicina de Família: Afinal o que é essa tal de CIAP?
SBMFC: Rumo a implantação da CIAP no Brasil
Para saber mais
1) Entenda a importância de usar a CIAP para conhecer sua demanda (o caso de Betim):
LANDSBERG, GP; SAVASSI, LCM; SOUSA, AB; FREITAS, JM; NASCIMENTO, J; AZARGA P. Análise de demanda em Medicina de Família no Brasil utilizando a Classificação Internacional de Atenção Primária. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2012, vol.17, n.11, pp. 3025-3036. ISSN 1413-8123. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n11/v17n11a18.pdf
2) Os ganhos do e-SUS e a ficha de atendimento individual ou de procedimentos (vídeo):
3) Acesse o livro completo CIAP 2 (WONCA/ SBMFC/ ArtMed):
World Organization of National Colleges, Academies, and Academic Associations of General Practitioners/Family Physicians Classificação Internacional de Atenção Primária (CIAP 2) / Elaborada pelo Comitê Internacional de Classificação da WONCA 2. ed. – Florianópolis : Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 2009. Disponível em http://www.sbmfc.org.br/media/file/CIAP%202/CIAP%20Brasil_atualizado.pdf
Publicado originalmente por Leonardo C M Savassi em http://medicinadefamiliabr.blogspot.com