Entenda:
A hanseníase é uma doença causada pelo Bacilo de Hansen (Mycobacterium leprae), que se aloja nas células de Schwann e a partir daí causa danos neurológicos que repercutem em perda de sensibilidade e manchas na pele, seguidas de manifestações neuromusculares como deformidades em mãos e pés, queda de pelos (em especial madarose ciliar) e alterações na face (levando à fascies leonina desabamento das asas nasais) se não tratada a tempo.
Com o tempo, e se não tratada, as deformidades levam a pressão dos ossos sob a pele, ocasionando perfurações, osteomielite e evoluindo para amputações (o que leva ao pensamento leigo de que na hanseníase as pessoas "perdem pedaços do corpo).
Como o único reservatório conhecido da doença era o homem, durante séculos o "tratamento" da doença consistia em isolar os doentes para "proteger os sãos". Até o surgimento das sulfonas em 1941 e posteriormente da poliquimioterapia duas década depois, o isolamento foi mantido, e persistiu em alguns países - como o Brasil, até as décadas seguintes.
Em nosso país, para afastar o estigma da doença, mudou-se a nomenclatura de "lepra" para hanseníase na terminologia da saúde pública em 1995, alterando o estigma mas também a percepção da gravidade da doença. Embora tenha conseguido este intuito, por outro lado é um dos fatores aventados para o Brasil ser o último dentre os países que notificam casos a não erradicar a doença como problema de saúde pública, compromisso assumido em 1990 junto a Organização Mundial da Saúde, que deveria ter sido cumprido até o ano 2.000.
Do que se trata o preconceito:
A rede Record de TV, ao abordar um trecho bíblico como tema de novela, inadvertidamente reforça o preconceito contra a hanseníase. Ao criar uma situação em que um hanseniano é "contaminado" a partir do "contato com a pele de um 'leproso' (sic)", a novela traz conceitos absolutamente errôneos e pode reforçar o estigma bíblico milenar arraigado nos conceitos da doença.
Em primeiro lugar, a doença não é transmitida pelo contato de uma pele sã com o doente, a fonte principal de transmissão é pela via aérea. Em segundo lugar, a transmissão depende de contato íntimo prolongado, de anos (e não um simples contato com a pele). Além de trazer a tona todos os conceitos de "impureza" e "pecado" ligados a doença.
Infelizmente, ao tentar abordar trechos bíblicos que envolvem a doença, ressurgem os preconceitos advindos da tradução errônea do termo "Tsaraath" para o antigo e novo testamentos. O termo se referia a vários problemas de pele, como vitiligo, hanseníase, micoses, e foi traduzido unicamente como 'lepra', sendo a bíblia sagrada uma das grandes responsáveis por todo o preconceito contra as pessoas que adquiriram a doença.
Veja a matéria da própria rede no Portal R7: Leia aqui, mas antes veja os links a seguir para entender um pouco mais.
Entenda o preconceito bíblico:
As duas apresentações a seguir dão uma noção do que foi conviver com a doença no passado:
Savassi, Leonardo Cançado Monteiro. Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de pacientes e seus cuidadores / Leonardo Cançado Monteiro Savassi. – Belo Horizonte, 2010. xvii, 179 f.: il.; 210 x 297mm. Bibliografia: f.: 188-196 Dissertação (Mestrado) – Dissertação para obtenção do título de Mestre em Ciências pelo Programa de Pós - Graduação em Ciências da Saúde do Centro de Pesquisas René Rachou. Área de concentração: Saúde Coletiva.
Fonte: Site CPqRR Fiocruz Minas (PDF)
Se quiser entender um pouco mais sobre percepção da doença pelas pessoas como elemento importante de mudança de comportamento, veja esta apresentação: